O ex-procurador geral da República Rodrigo Janot pensou em matar o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Gilmar Mendes no auge das investigações da Lava Jato, em 2017. O plano, abandonado no último instante, foi revelado por Janot em entrevista à Revista Veja. “Ia dar um tiro e me suicidar”, admitiu o ex-procurador, que na próxima semana lança o livro Nada Menos que Tudo para revelar esse e outros bastidores das investigações da força-tarefa da Lava Jato.
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“Num dos momentos de dor aguda, de ira cega, botei uma pistola carregada na cintura e por muito pouco não descarreguei na cabeça de uma autoridade de língua ferina que, em meio àquela algaravia orquestrada pelos investigados, resolvera fazer graça com minha filha. Só não houve o gesto extremo porque, no instante decisivo, a mão invisível do bom senso tocou meu ombro e disse: não”, revela Janot no livro Nada Menos que Tudo.
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Os atritos entre Janot e Gilmar Mendes eram visíveis na época. Mas, segundo o ex-procurador geral da República, esse episódio só passou pela sua cabeça quando o ministro do STF fez críticas a sua filha. Foi depois que Janot pediu ao STF que Mendes não participasse do processo sobre o empresário Eike Batista, alegando que a esposa do ministro trabalhava no mesmo escritório de advocacia que defendia Eike. É que, após isso, surgiram notícias de que a filha de Janot advogava para empresas investigadas pela Lava Jato. O ex-procurador negou as acusações, mas as creditou a Gilmar Mendes.
“Esse inspetor Javert da humanidade resolveu equilibrar o jogo envolvendo a minha filha indevidamente. Tudo na vida tem limite. Naquele dia, cheguei ao meu limite. Fui armado para o Supremo. Ia dar um tiro na cara dele e depois me suicidaria. Estava movido pela ira. Não havia escrito carta de despedida, não conseguia pensar em mais nada. Também não disse a ninguém o que eu pretendia fazer”, revelou Janot, que depois de desistir do plano pediu para sair do STF dizendo que não estava se sentindo bem. “Acho que ele [Mendes] nem percebeu que esteve perto da morte”, conclui Janot, que diz ter parado de andar armado depois desse episódio.
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PublicidadeJanot ainda fala de outras autoridades envolvidas na Lava Jato na entrevista sobre o livro Nada Menos que Tudo. Sobre Lula, por exemplo, disse ter certeza que o ex-presidente é corrupto. O mesmo cabe a Michel Temer, Fernando Collor e Eduardo Cunha. Cunha, por sinal, foi taxado de “o pior dos criminosos” porque Janot acredita que o ex-presidente da Câmara esteve por trás de uma invasão a sua residência. “A partir de 2014, minha vida virou um inferno”, admitiu.
Já sobre Dilma, o ex-procurador geral diz que o problema não foi corrupção, mas tentar atrapalhar as investigações nomeando Lula ministro da Casa Civil. Ele ainda contou ter recebido um convite de Aécio Neves para ser o vice da candidatura à presidência do então senador.
Janot ainda comentou a atuação do então juiz Sergio Moro. Ele disse que as conversas reveladas pelo The Intercept podem gerar um questionamento ético sobre a imparcialidade de Moro, mas não atrapalharam tecnicamente a condução dos processos. O ex-procurador geral da República, contudo, admite que achou duvidosas algumas das decisões dos procuradores da Lava Jato. Ele disse que se arrependeu de ter delegado à força-tarefa de Curtiba o direito de fechar as primeiras colaborações premiadas da operação porque as delações de Paulo Roberto Costa e Alberto Youssef foram “muito rasas” e porque o primeiro inquérito contra Eduardo Cunha estava “muito ruim”.
“Questionei a respeito. Recebi como resposta que o objetivo deles era ‘horizontalizar as investigações, e não verticalizar’. Achei estranho. Determinadas decisões poderiam estar sendo tomadas com objetivos políticos? Os procuradores decidiram, por exemplo, denunciar o ex-presidente Lula por corrupção e lavagem de dinheiro e, no caso da lavagem, utilizaram como embasamento parte de uma investigação minha, que eu nem tinha concluído ainda. Mas não houve nenhum complô político”, afirmou Janot em entrevista à Veja.
Rodrigo Janot garante, por sua vez, que sua intenção não é deixar nenhuma conclusão sobre as investigações da Lava Jato. Ao contrário, a ideia do livro Nada Menos que Tudo é deixar um relato pessoal dos quatro anos em que esteve à frente da Procuradoria-Geral da República e da Lava Jato para que as pessoas tirem suas próprias conclusões sobre a operação.
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