Renata Camargo
O ex-governador de Minas Gerais Aécio Neves roubou a cena neste sábado (10)
no encontro nacional do PSDB, que lançou a pré-candidatura para a Presidência da
República do ex-governador de São Paulo José Serra. Em discurso inflamado e
muito aplaudido, Aécio admitiu que, se o partido o indicar, ele poderá ser vice
de Serra. O mineiro preferiu falar nas entrelinhas e disse que
estará com Serra “onde quer que seja convocado”.
“Ninguém tem proposta melhor para este país do que José Serra. E a seu lado
estarei, onde quer que eu seja convocado. No momento em que, no final do ano
passado, declarei-me não mais candidato do PSDB, eu dei o primeiro sinal claro
de que estaria a seu lado, governador José Serra, porque acima de projetos
pessoais, por mais legítimo que seja, está o interesse de construir um Brasil
diferente”, disse Aécio, enquanto a multidão gritava “vice, vice”.
O discurso de Aécio antecedeu ao de Serra. Enquanto o pré-candidato a
presidente adotou o tom conciliador do “não aceito o nós contra eles”, o
ex-governador mineiro preferiu enfatizar que o PT, principal partido com o qual
os tucanos vão disputar a Presidência, sempre colocou o “projeto partidário”
acima dos interesses da nação.
“O PSDB e seus aliados estão sim preparados para debater sobre o futuro, mas
se quiserem também vamos debater sobre o passado, porque não há nada que nos
envergonhe. Ao contrário do que muitos querem me fazer crer, o Brasil não foi
descoberto em 2003. Se o Brasil é hoje um país melhor hoje, foi porque em 1985,
todos que estamos aqui estivemos ao lado de Tancredo Neves. Eles não. A ele,
negaram o seu voto, porque o projeto para eles sempre foi o projeto
partidário”, alfinetou Aécio.
Arrogância
Em seu discurso, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso também aproveitou
o momento para fazer duras críticas ao governo do PT, à pré-candidata Dilma
Rousseff e ao próprio presidente Lula. Sem citar nomes, o ex-presidente tucano
disse que “o Brasil cansou de uma certa arrogância, que o Brasil cansou de uma
autoconfiança ilimitada”.
“O Brasil cansou de quem despreza todo mundo, de quem desrespeita a lei. O
Brasil quer ver o malandro que roubou na cadeia. O Brasil cansou de ver pessoas
responsáveis passando a mal na cabeça de todo mundo como se fosse generosidade,
quando na verdade é um incentivo ao desrespeito à lei”, disse Fernando
Henrique.
O ex-presidente do PSDB falou também que Serra saberá reconhecer o que foi
feito pelos governos do passado e pelo governo Lula, porque o partido
e seus aliados não são “daqueles que cospem no prato”. De olho no
eleitorado do Bolsa Família, Fernando Henrique reforçou que o governo
tucano dará “quantas bolsas sejam necessárias para dar condições à população”.
“A história é um processo. Porque não dizer que o tijolo que está bem feito,
vai ficar aí? Vamos colocar outros tijolos e quantas bolsas que sejam
necessárias para dar condições à população”, disse. “Nós vamos querer um Brasil
que, ao olhar para o passado, o difama? Ou que, no presente, transforma tudo em
marketing? Ou um Brasil que construa o futuro? Só se pode entregar um país como
o Brasil a quem tem qualidade de liderança e essas qualidades não são natas”,
declarou o ex-presidente.
O lançamento da pré-candidatura de Serra também contou com os discursos dos
presidentes do PPS, Roberto Freire (PE), e do DEM, Rodrigo Maia (RJ). Os dois
alinharam os discursos ao do presidente do
PSDB, Sérgio Guerra (PE), em críticas ao governo Lula. Roberto Freire disse
que “o país exige mudanças”, mas que o governo Lula “não tem a ousadia da
mudança”. Rodrigo Maia disse que Lula “governou para administrar a pobreza, e
não para superar a pobreza”.
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