Fábio Góis
A temperatura continua quente no centro administrativo de Brasília. Depois das cenas de selvageria registradas ontem (quarta, 9) em frente ao Palácio do Buriti, sede do governo do Distrito Federal, em que a cavalaria de choque da Polícia Militar usou a truculência para impedir o protesto contra o mensalão do governador José Roberto Arruda (DEM), mais um protesto está em curso contra o escândalo de corrupção que abala o DF – desta vez na Esplanada dos Ministérios, no gramado em frente ao Congresso.
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Centenas de manifestantes – entre estudantes, líderes de classe, integrantes de ONGs – são observados atentamente por dezenas de policiais, com um amplo aparato de segurança à disposição. Até o momento, o ato transcorre sem transtornos, com os manifestantes se limitando a proferir palavras de protesto contra o governo Arruda e empunhando faixas com dizeres diversos – todos pela saída de Arruda do cargo. No asfalto, estacionado a cerca de 200 metros, um caminhão com faixas do Companhia Energética Minas Gerais (Cemig) e da Companhia de Saneamento de Minas Gerais (Copasa) demonstra que o descontentamento com o governador democrata transpõe as fronteiras do DF.
Segundo o major Madureira, da Polícia Militar, há 300 estudantes na manifestação. Ele afirmou ter conversado com os líderes do movimento para evitar confrontos como o de ontem. “Eles avisaram o que ia acontecer e nós dizemos que [a ação policial preventiva] deve ser assim, assado (sic). O acordado não sai caro”, disse o militar à reportagem.
A cerca de 300 metros do local, estrategicamente posicionado ao lado das obras de reforma do Palácio do Planalto, um grupo de cerca de 20 soldados da cavalaria de choque – a mesma que protagonizou as cenas de violência contra manifestantes em frente à sede do GDF – espera para entrar em ação caso a circunstância exija, como garantiu à reportagem um dos cavaleiros.
Ele diz que a cavalaria foi acionada assim que os manifestantes desceram a Esplanada dos Ministérios em direção do Palácio da Justiça. Neste momento, os manifestantes estão sentados na grama em frente ao Congresso, próxima àquele ministério. Na lateral inclinada do gramado, eles foram a palavra “fora!”, devidamente registrada pelos fotógrafos de plantão. Nos arredores, dezenas de camburões da tropa de operações especiais e da PM observam a evolução do protesto.
“Arruda, eu tô com fome, cadê meu panetone!”, é uma das cantorias de protesto entoadas pelos manifestantes. A referência à iguaria ironiza a desculpa inicial dos assessores de Arruda para os pacotes de dinheiro que o governador e seus pares no GDF receberam das mãos do ex-secretário de Relações Institucionais e pivô do escândalo, Durval Barbosa, sem saber que uma câmera escondida os flagravam. O dinheiro serviria para a compra do petisco de Natal.
“Policial, pai de família, não defende esta quadrilha”, dizia outra “música”, em referência nada honrosa a assessores, empresários brasilienses e parlamentares da base aliada ao GDF flagrados ao receber ilegalmente dinheiro público.
Bastidores
Enquanto as ruas se inflamam contra o governador do Distrito Federal, o mandatário lança mão de estratégias políticas que possam evitar o que parece ser inevitável: seu impeachment. Desde a eclosão do escândalo, 11 pedidos de impeachment foram apresentados por entidades, partidos e representantes de classe, mas apenas três foram aceitos pela Câmara Distrital, onde o que restou da base de sustenção do governo tenta assimilar o golpe.
Em breve pronciamento na residência oficial do governo, Arruda anunciou a “difícil” decisão de se desfiliar do DEM, que estava prestes a expulsá-lo. O governador deixou o local pronunciamento sem atender às perguntas da imprensa.
Arruda, que teve negado seu pedido para se manter na legenda, disse que a única preocupação é continuar a governar Brasília. Sem citar nomes, ele disse que o escândalo trazido à tona pela operação Caixa de Pandora, da Polícia Federal, é uma farsa orquestrada por adversários políticos para tirá-lo do páreo eleitoral, de maneira a impedir sua reeleição.
As primeiras pesquisas eleitorais referentes à eleição para o governo do DF, em 2010, dão conta de que o ex-governador Joaquim Roriz (PSC) lidera com folga as intenções de voto. Mas Roriz não está livre das acusações: segundo o inquérito em curso no Superior Tribunal de Justiça, Durval disse que o esquema de corrupção teve início no último mandato de Roriz (2003-2006). Roriz até agora não apareceu nos vídeos gravados pelo ex-secretário, e não comenta as acusações.
Colaborou Eduardo Militão.
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