O líder indígena chamado de “peça de manobra” pelo presidente Jair Bolsonaro em seu discurso na Assembleia Geral da ONU nesta terça-feira (24), em Nova York, teve seu nome lançado, no último dia 12, à disputa pelo Prêmio Nobel da Paz de 2020 por entidades indigenistas e ambientalistas. Aos 89 anos, o cacique kaiapó Raoni Metuktire é um dos principais porta-vozes da causa indígena em todo o mundo. Apenas este ano foi recebido por autoridades como o presidente da França, Emmanuel Macron, e o Papa Francisco, aos quais denunciou a política socioambiental do governo Bolsonaro, o que gerou a irritação do presidente brasileiro.
Com mais de 50 anos de militância em defesa da preservação da floresta amazônica e dos povos indígenas, Raoni ganhou notoriedade internacional em 1987, quando se encontrou em São Paulo com o cantor inglês Sting durante uma turnê promovida pela Anistia Internacional para pedir apoio à demarcação de terras indígenas.
Em 1989, sempre com seu inconfundível disco de madeira que estica o lábio inferior, brincos e cocar amarelo, percorreu 16 países ao lado de Sting, em campanha pela criação do Parque Nacional do Rio Xingu, que veio a ser homologado em 1993 com 180 mil quilômetros quadrados entre Mato Grosso e Pará. Sua militância nunca parou. Raoni também atuou contra a construção de barragens em terras indígenas como a Usina de Belo Monte, autorizada pela ex-presidente Dilma Rousseff.
“Pessoalmente não sinto que a indicação seja para se contrapor ao movimento de Bolsonaro. Esse pelo menos não é meu apelo. Penso que vivemos um momento muito importante e seria bom obtermos o respeito da Europa, personificado na figura de Raoni, para fortalecer a proteção das florestas e dos povos indígenas”, disse à Agência Pública o ex-presidente da Fundação Nacional do Índio (Funai) Sydney Possuelo, um dos responsáveis pelo lançamento da indicação de Raoni ao Nobel da Paz. “Ele está tão plácido que parece superior às coisas. Recebeu a notícia com toda a maturidade que o caracteriza, sem vaidade. É um homem que passou a vida lutando por direitos”, acrescentou o sertanista.
Em um vídeo publicado no mês passado em canal que leva seu nome, Raoni fez críticas à política socioambiental de Bolsonaro e lamentou que o presidente brasileiro não queira recebê-lo. “Eu conheci muitos chefes de Estado, por mais de 60 anos. Eles falaram comigo, eles me consideraram. A gente pôde discutir”, afirmou em sua língua nativa, conforme a legenda do vídeo.
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Bolsonaro levou para a Assembleia Geral da ONU a indígena e youtuber Ysani Kalapalo, sua apoiadora desde a campanha eleitoral. A presença dela na comitiva presidencial causou polêmica. As maiores lideranças das 16 etnias da região do Xingu – onde Ysani nasceu- emitiram uma carta repudiando a escolha de Kalapalo e afirmando que ela não os representa.
Em seu discurso, o presidente afirmou ainda que os indígenas não querem ser “latifundiários pobres em cima de terra rica” e citou as reservas minerais estimadas nos territórios Yanomami e Raposa Serra do Sol. “Muitas comunidades estão sedentas para que desenvolvimento ocorra sem amarras ideológicas e burocráticas”, mencionou o Bolsonaro, que também associou a situação pobreza de povos indígenas ao “ambientalismo radical e indigenismo ultrapassado”. “Acabou o monopólio do senhor Raoni”, discursou.
Em maio o cacique passou pela França, Luxemburgo, Mônaco, Vaticano e Bélgica. Em Bruxelas participou de uma Marcha pelo Clima. A viagem foi organizada pela ONG Forêt Vierge, sediada em Paris, da qual ele é presidente honorário. A peregrinação tinha como objetivo denunciar o desmatamento acelerado na Amazônia, o avanço sobre as terras indígenas pelo agronegócio e arrecadar recursos para a proteção da Amazônia e da reserva do Xingu. Do primeiro-ministro de Luxemburgo ele recebeu uma doação de 100 mil euros.
Segundo a ONG, Raoni pretende usar o dinheiro arrecadado para sinalizar melhor os limites da reserva, comprar drones e outros equipamentos para vigiar a região, e investir em conhecimento técnico para projetos de exploração sustentável da floresta.
Veja entrevista de Raoni à Agência Pública:
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O Presidente Bolsonaro está certo,tem que haver uma política de desenvolvimento que busque a evolução dos índios no processo civilizatório humano.Nos primeiros anos do cristianismo,os nativos da Germânia, a Alemanha hoje eram primitivos,será que existiria essa potência que é a Alemanha se os Romanos que dominavam tudo tivessem tratado os germanos como querem tratar os índios hoje?