O atual ministro das Relações Exteriores, Aloysio Nunes (PSDB), e o próximo ocupante do cargo, o diplomata Ernesto Araújo (nomeado pelo presidente eleito Jair Bolsonaro para a pasta) tiveram nesta semana um “atrito indireto” pelo Twitter. O pivô foi o Pacto Global para a Migração da ONU, um documento que Aloysio acabou de assinar e Araújo já anunciou que não endossará.
Aprovado em julho e selado na última segunda-feira (10) em uma conferência em Marrakesh (Marrocos), o acordo teve adesão de 164 países (os Estados Unidos não assinaram) e traça diretrizes gerais para proteger a dignidade dos imigrantes no planeta, especialmente os que cruzam fronteiras em situações precárias e vulneráveis.
A ONU frisou, no texto, que não há “vinculação legal” e que não se pretende violar a soberania dos Estados, ou seja, são apenas diretrizes e recomendações. O acordo parte da premissa de que nenhum Estado, sozinho, pode lidar com a questão da imigração, que deve ser tratada de forma global, e estabelece 23 objetivos a serem buscados pelos países em conjunto.
Várias metas tratam de questões materiais da vida do imigrante em país estrangeiro, como garantir que eles tenham documentação, que não corram perigos ao cruzar as fronteiras e que tenham facilidade em acessar serviços básicos, oportunidades de trabalho e de remessa de dinheiro à terra natal. Confira os pontos:
1) Coletar e usar dados precisos e de fontes diversas como diretrizes para criação de políticas públicas baseadas em evidências
2) Minimizar os fatores adversos e estruturais que levam as pessoas a deixarem seus países de origem
3) Fornecer, entre os países e para os imigrantes, informações precisas e oportunas em todas as etapas da migração
4) Garantir que todos os imigrantes tenham identificação e documentação adequada
5) Melhorar a disponibilidade e a flexibilidade dos caminhos para imigração regular
6) Facilitar o recrutamento (profissional) justo e ético para os imigrantes e salvaguardar condições que garantam um trabalho digno
7) Abordar e reduzir as vulnerabilidades na imigração
8) Salvar vidas e estabelecer esforços internacionais coordenados para localizar imigrantes desaparecidos
9) Fortalecer a resposta transnacional ao transporte clandestino de imigrantes
10) Prevenir, combater e erradicar o tráfico de pessoas no contexto da imigração internacional
11) Gerenciar fronteiras de maneira integrada, segura e coordenada
12) Fortalecer a certeza e a previsibilidade nos procedimentos de imigração para triagem, avaliação e encaminhamento adequados
13) Usar a detenção de imigrantes apenas como última medida e trabalhar com alternativas
14) Melhorar a proteção, assistência e cooperação consular durante todo o ciclo de imigração
15) Fornecer acesso a serviços básicos para migrantes
16) Capacitar migrantes e sociedades para a plena inclusão e coesão social
17) Eliminar todas as formas de discriminação e promover o discurso público baseado em evidências para moldar as percepções da imigração
18) Investir no desenvolvimento de competências e facilitar o reconhecimento das competências dos imigrantes
19) Criar condições para que imigrantes contribuam plenamente para o desenvolvimento sustentável em todos os países
20) Promover a transferência mais rápida, segura e barata de remessas de dinheiro dos imigrantes a seus países de origem e promover a inclusão financeira deles
21) Facilitar retorno e readmissão seguros e dignos dos imigrantes a seus países
22) Estabelecer mecanismos para a portabilidade de direitos previdenciários e benefícios adquiridos dos imigrantes
23) Fortalecer a cooperação internacional e parcerias globais para uma imigração segura, ordenada e regular
A disputa
No mesmo dia em que o pacto foi assinado em Marrakesh, o futuro chefe do Itamaraty, Ernesto Araújo, foi ao Twitter informar que “o governo Bolsonaro se desassociará” do acordo. O futuro chanceler discorda do princípio da ONU de que o problema é transnacional. “A imigração não deve ser tratada como questão global, mas sim de acordo com a realidade e a soberania de cada país”, escreveu o diplomata.
Também pelo Twitter, Aloysio Nunes afirmou ter lido “com desalento” os argumentos de Araújo para a saída do Brasil do pacto. Segundo o atual ministro, a crise imigratória “é sim uma questão global. Todas as regiões do mundo são afetadas pelos fluxos migratórios, ora como pólo emissor, ora como lugar de trânsito, ora como destino”.
O governo do desacordo, da destruição, iremos ficar isolados, estamo sempre na contramão do progresso civilizatório.
Não é a toa ue ganhou as eleições.