*Deputada Ana Paula Lima
A Marcha das Margaridas, que este ano completou 23 anos, evidenciou uma realidade que é conhecida da sociedade, mas que fica escondida nos rincões brasileiros. Pelo menos 200 mil mulheres ocuparam a Esplanada para reivindicar seus direitos. Mulheres que lutam por justiça e pelo fim das desigualdades de gênero e de raça. Mais que uma reivindicação por direitos iguais, elas gritam para serem ouvidas e terem um reconhecimento como cidadãs. Numa sociedade extremamente desigual, o acesso à cidadania rural começa com o respeito aos direitos sociais. Talvez o principal desafio dessa bandeira seja ter o trabalho reconhecido.
Uma rotina que começa cedo. São mulheres que fazem de tudo um pouco. Cuidam das crianças, dos maridos, cuidam dos animais, da plantação e da casa. Na Marcha das Margaridas, todas se uniram em coro por uma mesma causa: melhores condições de vida no campo. Isoladamente, a causa que trouxe essas mulheres, esposas e mães de tão longe teve diferentes motivações. Algumas vieram em busca de melhorias para o território, outras, apontavam a falta de liberdade no campo e muitas denunciavam a violência que paira na vida rural.
O tema da violência no campo gritou mais alto com as declarações de intimidações, agressões, trabalho escravo, privações de liberdade, estupros e feminicídio. São situações que afligem as mulheres do campo e que pautaram os dois dias da Marcha das Margaridas. Na ocasião, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva lançou o Pacto Nacional de Prevenção ao Feminicídio. Com isso, o governo Federal atende um dos 13 eixos das reivindicações que compreendem ainda a participação da mulher na política, uma vida livre de violência, autonomia e liberdade das mulheres sobre o seu corpo, proteção da natureza, democratização do acesso à terra, autodeterminação dos povos, autonomia econômica, saúde, previdência e na assistência social, educação pública e ainda na universalização da internet.
Leia também
No tema da violência, os dados não são animadores: 1,9% dos feminicídios e 3,3% das demais mortes violentas de mulheres no Brasil têm como palco a área rural. Essas informações estão no Anuário Brasileiro de Segurança Pública 2023. A participação de mulheres em movimentos sociais no campo vem crescendo a cada ano e a Marcha das Margaridas é o reflexo desta realidade. Ao lançar o Pacto, durante a Marcha, o presidente Lula destaca que para conquistar autonomia, o caminho seria por meio da autonomia econômica. Esta será uma longa caminhada, mas que começa com a própria conscientização da mulher do campo ao perceber que atuando na inclusão produtiva, precisa ser respeitada e ter voz.
Faço das palavras desta paraibana arretada Margarida Maria Alves, as minhas palavras quando afirmou que é melhor morrer na luta que morrer de fome. Mesmo sabendo que sua vida estava em risco não abandonou a luta em defesa dos seus direitos e de todas as mulheres que têm suas vidas impactadas pela opressão, que muitas vezes começa dentro de casa. Margarida foi vítima de um pistoleiro que a assassinou a mando de latifundiários.
PublicidadeUma história que está viva no campo e nas cidades. E que vivemos e rememoramos todos os anos, durante a Marcha. Com uma pauta de reivindicação legítima, essas mulheres simbolizam as margaridas que ainda são vítimas e precisam de proteção. A sociedade brasileira precisa encarar esta realidade de frente e aderir a este movimento com denúncias e políticas públicas que impactam e permitam mudanças reais. Essa luta é nossa, Margarida!
*Deputada federal pelo PT de Santa Catarina
wspgVvEKqAPcI
dwqkSLFtEKVRh
jpGTvIQbiPkxXJ
zSqXiAoHNxe