Por Jean Paul Prates*
Neste sábado, 5 de junho, o país que abriga a maior biodiversidade do planeta deveria comemorar o Dia Mundial do Meio Ambiente orgulhoso de ser o guardião da maior porção da Floresta Amazônica, de uma costa marinha de 3,5 milhões km² onde se aninha uma vasta variedade de ecossistemas (recifes de corais, dunas e manguezais, por exemplo).
Deveríamos festejar que em nosso território estão as maiores reservas de água potável do mundo — só o Aquífero Guarani, maior reserva de água doce do planeta, tem um volume de água estimado em aproximadamente 55 mil km³. Ou, ainda, comemorar nossa capacidade de construir uma matriz energética predominantemente limpa, com 82% de fontes renováveis.
Mas não. Muitos atravessarão a data indiferentes. Outros muitos, nos quais me incluo, vivenciarão este Dia Mundial do Meio Ambiente apreensivos.
Apreensivos com o insano crescimento do desmatamento, que em março 2021 registrou novo recorde, um crescimento de 216% a mais em relação ao mesmo mês de 2010. Essa é uma tragédia que não se limita à Amazônia, que costuma ocupar as manchetes mundiais.
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Também são motivo de aflição o destino do Cerrado e da Mata Atlântica—nesse último bioma, entre 2019 e 2020, a taxa foi de desmatamento cresceu 462% apenas no estado do Espírito Santo.
A preocupação se estende aos nossos mares, nossas águas, nossas bacias hidrográficas—prontas a sair do controle do Estado com a ameaça de privatização da Eletrobrás.
Esse é o Dia Mundial do Meio Ambiente no Brasil de Bolsonaro, o homem que já chegou a insultar até o Papa Francisco na defesa de seu “direito” de liderar a destruição de florestas, fauna, áreas preservadas e modos de vida tradicionais.
Cercados pela generosidade da natureza com o nosso território, somos o povo que vai assistir à passagem do 5 de Junho com um ministro do Meio Ambiente investigado por facilitar contrabando de madeira da Amazônia e aguardando os próximos capítulos dessa bizarra reedição do Velho Oeste na qual hordas de criminosos travestidos de garimpeiros atacam comunidades indígenas em Roraima.
O enredo é revoltante, mas é coerente. Afinal, estamos sob o governo do homem que já havia avisado que “o interesse na Amazônia não é no índio, nem na p* da árvore, é no minério”, em erudita declaração de 1º de outubro de 2019.
Coerente com o obscurantismo que apeou o Brasil do posto de liderança respeitada no diálogo global sobre as mudanças climáticas e nos atirou à condição de párias negacionistas também no debate ambiental.
Tão párias que na Cúpula Climática da ONU, em setembro de 2019, o discurso do chefe de Estado brasileiro foi suprimido da programação. Em lugar de Bolsonaro, que falou foi o Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST), cujo trabalho na agroecologia era tema do curta-metragem exibido no roteiro oficial da conferência — uma prova de que ainda há muita gente e muitas entidades no Brasil capazes de redimir nossa imagem perante o mundo.
Também no meio ambiente, a era Bolsonaro contrasta dolorosamente com os governos do PT, tempo em que tínhamos autoridade mundial para falar do tema, resultado do exemplo em casa.
Basta lembrar que entre 2004 e 2015, o Brasil reduziu em 79% o ritmo de desmatamento da Amazônia. Foram criados 59 milhões de hectares de áreas de proteção de florestas — “a p* das árvores”, diria Bolsonaro — e dos povos que nelas habitam.
Aguente firme, natureza, porque esses dias vão voltar.
Por enquanto, se deve haver alguém feliz no Brasil neste 5 de Junho, só pode ser Jair Bolsonaro. Afinal, ele cumpriu o prognóstico feito em abril de 2019 pela revista britânica The Economist e se tornou mesmo “o chefe de Estado mais perigoso do mundo para o meio ambiente”. E sequer é possível chamar a Economist de “esquerdista”: fundada como porta-voz do capitalismo em 1843, a revista também sabe manter sua coerência.
Fazendo companhia à felicidade do exterminador estarão apenas os predadores do garimpo ilegal, do contrabando de madeira e espécies nativas, os espertos que despejam esgoto em rios e praias, os vendedores de veneno agrícola e os racistas que odeiam indígenas e comunidades tradicionais.
Eu prefiro estar angustiado em melhor companhia. Apreensivo, pronto para a luta e para a reconstrução.
*Jean Paul Prates é senador da República pelo Rio Grande do Norte e líder da Minoria na Casa
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