*Carlos Eduardo Bellini Borenstein
Em meio as eleições municipais de 1988, a tentativa do Exército e da Polícia Militar (PM) em dispersar uma greve, que reivindicava melhorias salariais, na Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), em Volta Redonda (RJ), resultou num confronto que provocou a morte de três trabalhadores. O episódio gerou uma grande comoção nacional. Na onda daquele episódio, conhecido no meio sindical como O Massacre de Volta Redonda, Olívio Dutra (PT) se elegeu prefeito de Porto Alegre (RS) e Luiza Erundina (PT) foi eleita prefeita de São Paulo (SP).
Na última quinta-feira (19), o assassinato de João Alberto, um homem negro de 40 anos, ocorrido em Porto Alegre, por espancamento após uma discussão com seguranças do supermercado Carrefour, provocou uma comoção similar na opinião pública.
Tanto em Porto Alegre quanto em São Paulo temos duas candidaturas do campo progressista no segundo turno: Manuela D’Ávila (PCdoB) e Guilherme Boulos (PSOL), respectivamente.
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Faltando quatro dias para o segundo turno, Manuela e Boulos aparecem em desvantagem nas disputas contra Sebastião Melo (MDB) e Bruno Covas (PSDB). A distância de Manuela para Melo e de Boulos para Covas gira em torno de dez pontos percentuais nas últimas pesquisas.
PublicidadeIbope em Porto Alegre: Sebastião Melo tem 49% e Manuela D´Ávila, 42%
Diante desse cenário, surge a seguinte questão: as eleições de 2020 podem repetir o fenômeno de 1988, quando a partir de um evento de grande comoção nacional, candidaturas do campo progressistas conquistaram viradas até então inesperadas?
Apesar do sentimento anti-esquerda ainda existir tanto em Porto Alegre quanto em São Paulo, ele é inferior ao que foi nas eleições de 2016 e 2018. Além disso, tivemos no primeiro turno do pleito desse ano a eleição para as Câmaras Municipais de mulheres, negras e ativistas de grupos LGBT’s, mostrando a forças das pautas identitárias.
Diante deste novo cenário criado com o brutal assassinato de João Alberto e o agendamento ainda mais forte do debate da pauta anti-racista, defesa das mulheres e grupos LGBT’s, que potencialmente podem beneficiar Manuela e Boulos na reta final, uma reviravolta do cenário eleitoral em curso tanto em Porto Alegre quanto em São Paulo não deve ser descartado.
Sempre é importante lembrar que eventos que geram comoção e produzem engajamento tem o potencial de provocar bruscas mudanças no clima da opinião pública. Como essas “viradas” costumam acontecer na última hora, são vistas apenas quando os votos são apurados.
Cientista Político formado pela ULBRA-RS desde 2006. Possui MBA em Marketing Político, Comunicação e Planejamento Estratégico de Campanhas Eleitorais pela Universidade Cândido Mendes.
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