Apesar de muitas pessoas desconhecerem, todo dia 21 de março celebra-se o Dia do “Orgulho SUS”. Um dia em que os profissionais de saúde (médicos, enfermeiros, técnicos de enfermagem, agentes de saúde e auxiliares de controle de endemias), voluntários e usuários do Sistema Único de Saúde celebram e assumem compromissos para melhorarem o sistema de saúde pública.
Esse é um movimento global, que teve início em 2012, na Inglaterra, com o movimento “#ChangeDay” (dia da mudança), no qual profissionais de saúde, pacientes e voluntários faziam promessas com objetivo de melhorar o serviço de saúde da Inglaterra. Devido ao sucesso dessa iniciativa, outros países com sistemas de saúde pública passaram a integrar esse movimento, criando uma data para promover essas ações. No Brasil, a data escolhida foi 21 de março, pois, na mesma data, no ano de 1986, se encerrava a 8ª conferência nacional de saúde no país, considerada um marco na construção do SUS.
No contexto brasileiro, onde os serviços públicos sofrem ataques diariamente, é necessário dizer que qualquer movimento de celebração e orgulho da coisa e da saúde pública é muito importante e deve ser apropriado pela população, não exclusivamente para as iniciativas hipócritas sugeridas no portal oficial da Prefeitura do Rio de Janeiro, como posts nas redes sociais e ações individuais, mas para ser um instrumento de luta e cobrança do Estado, para que ele faça o que lhe corresponde e garanta uma assistência de saúde pública adequada a toda a população brasileira. É evidente que a construção do sistema público de saúde é coletiva, mas é, a priori, dever do Estado e direito de todos e todas.
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Durante o período mais crítico da pandemia, até então, assistimos aos profissionais de saúde saírem de suas casas e auxiliarem no salvamento de milhares de vidas. vimos os mesmos arriscarem as suas vidas e de seus familiares sem nenhum apoio efetivo do Estado. EPIs pagos com seus próprios salários defasados, falta de recursos e esgotamento físico e mental. Do outro lado, a maior parte da população brasileira, usuária do Sistema Público de Saúde, estava perdendo seu emprego, lidando com a carestia de vida, com a insegurança alimentar e com a incerteza de que, caso adoecesse, teria leito disponível no SUS.
Diante de todo esse cenário caótico, a única proposta da prefeitura do Rio de Janeiro parece ser celebrar o Orgulho SUS e é impossível não nos perguntarmos: orgulho para quem? Foi o que também se perguntaram os trabalhadores da saúde, que saíram às ruas, no dia 08 de março de 2022, no centro do Rio, em frente ao prédio da prefeitura, para reivindicar o repasse das verbas Federais do Fundo nacional de saúde, melhores condições de trabalho, plano de carreira, valorização profissional, combate ao forte assédio moral ao qual inúmeros trabalhadores são vítimas, entre outras pautas. É vergonhoso um Estado que submete os seus profissionais de saúde a essas condições terríveis de trabalho, não tem nada do que possamos nos orgulhar nisso, a não ser o heroísmo desses trabalhadores que, mesmo sem as devidas condições, lutaram bravamente contra a pandemia e contra as suas próprias mazelas.
Agora chegou a nossa vez de abraçarmos esses trabalhadores e pressionarmos os governos e as prefeituras, para que o dia do “Orgulho SUS” não seja mais uma hashtag na rede, mas também um dia em que o Estado vai se comprometer com as reivindicações dos profissionais da saúde e cuidar daqueles que cuidam da gente, mesmo quando nada é motivo de orgulho.
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