Jean Paul Prates*
Vinte e cinco mortos, nove horas de terror, granadas, cartuchos de balas e rastros de sangue pelas ruas e até no quarto de uma criança de nove anos.
O terror vivido pelos 40 mil moradores da Comunidade do Jacarezinho, no Rio de Janeiro sacudiu o País, nesta última quinta-feira (6): uma lembrança amarga de que a bocarra da necropolítica não se sacia com 417 mil mortes evitáveis na pandemia.
Não basta esperar sentado, prescrevendo placebos, ridicularizando cuidados, negando oxigênio e vacinas, e deixando que o vírus faça a sua parte.
É preciso ir buscar as vítimas em casa, sempre nas moradias precárias das periferias desassistidas de tudo — e que ninguém acuse a necropolítica de passividade.
Leia também
E o resultado está aí: 25 mortos (entre eles um policial), nove horas de terror, balas, sangue e mais um trauma para esse país exausto de ver o fundo do poço sendo mais e mais escavado—e logo quem, as autoridades, que deveriam zelar pelo bem-estar, saúde e segurança de um povo atônito e atirado às feras.
Numa tragédia como a registrada no Jacarezinho esta semana, não há como destacar uma “pior parte”. Mas é fundamental ecoar o alerta de ativistas antirracistas como o advogado e filósofo Silvio Almeida, que classificou a entrevista coletiva pós-chacina da polícia do Rio de Janeiro como “o grau zero da barbárie”.
“O recado foi dado de forma límpida e clara: não haverá lei ou tratado internacional que pare essa gente. Eles já definiram quem merece morrer”, advertiu Silvio Almeida.
Ele tem razão. E é por isso que esta nova chacina não pode ser assistida como algo distante de quem não vive no Rio, não mora no Jacarezinho e não passou nove horas sob o zumbido das balas e o matraquear dos helicópteros.
Na entrevista coletiva, divulgada acriticamente pelos meios de comunicação mainstream, ouve-se um representante da polícia afirmar que os 24 mortos da comunidade “não eram suspeitos. Eram bandidos” — e dane-se o devido processo legal.
Mais alarmante foi ouvir outro representante da polícia criticarem o “ativismo judicial” que “não está do lado da Polícia Civil nem da sociedade de bem”, numa clara alusão à determinação do Supremo Tribunal Federal de suspender operações nas comunidades durante a pandemia.
Segundo esse delegado da polícia Civil do Rio de Janeiro que quer “o bem da sociedade”. Parece a Lava Jato, que sequestrou a lei, as instituições e o Estado de Direito para fazer valer sua concepção celerada de combate à corrupção.
Só que é muito pior, porque esse é um sequestro armado até os dentes, onde as vítimas estão mortas e não serão reivindicadas com o passo da História e o arrefecimento da histeria.
Não se enganem: a explicação da chacina por seus autores deixa claro que quinta-feira foi no Jacarezinho. Amanhã pode ser em qualquer lugar, enquanto perdurar essa besta faminta da necropolítica.
Numa coisa os representantes da Polícia Civil têm toda razão: o resultado da operação no Jacarezinho “fala por si só”. A sociedade minimamente saudável que está do lado de cá não pode deixar esse resultado falando sozinho.
*Jean Paul Prates é senador da República pelo Rio Grande do Norte e líder da Minoria no Senado
O texto acima expressa a visão de quem o assina, não necessariamente do Congresso em Foco. Se você quer publicar algo sobre o mesmo tema, mas com um diferente ponto de vista, envie sua sugestão de texto para redacao@congressoemfoco.com.br.
Em nenhum lugar do mundo a polícia é recebida pelos traficantes armados com com fuzis e granadas, como no RIO.
Puxa, já melhorou mais ainda.
Onde vai parar isso?
https://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2021/05/policia-foi-recebida-com-brutalidade-fuzis-e-granadas-diz-governador-do-rio.shtml
Um consolo, senador.
Já foram mais dois.
”Não se enfrenta bandido com rosas”