*Por Jean Paul Prates
Você lembram do tempo em que bastava o tilintar de 20 centavos para acordar o “gigante”?
Era 2013, o Brasil era governado por Dilma Rousseff, os analistas econômicos — esses mesmo que hoje fazem acrobacias para proclamar uma “retomada do crescimento” — reclamavam do “pibinho” de 2,3% e engatávamos a marcha para chegar ao quase pleno emprego, a taxa de 4,3% de desemprego de 2014, a menor de nossa história.
Era um tempo de consolidar a autossuficiência em petróleo e garantir combustível e gás de cozinha a preços acessíveis. Tempo de dar aos nossos jovens a oportunidade do aperfeiçoamento acadêmico em prestigiadas universidades no exterior, com as bolsas do Ciência sem Fronteiras.
Um tempo de ter chefes de Estado que abriam a Assembleia Geral da ONU falando de conquistas verdadeiras — as conquistas do Brasil que se tornou protagonista no debate sobre preservação ambiental e enfrentamento às mudanças climáticas e que retirava 40 milhões de pessoas da fome com o Bolsa Família, programa que serviu de modelo para o planeta.
Mas rios de dinheiro para a propaganda enganosa começaram a jorrar e “o gigante acordou” contra um ultraje de 20 centavos.
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O resto do enredo todo mundo conhece. Da tentativa de desmoralizar os resultados das urnas de 2014 ao impeachment sem crime de responsabilidade de 2016. Da implantação do implacável arrocho fiscal — em bom português: do corte impiedoso dos recursos para as políticas sociais — às reformas que cortaram na carne dos trabalhadores e trabalhadoras, com as reformas trabalhista e da Previdência.
Tudo em nome da “atração de investimentos”, da conquista da “confiança do investidor”, da construção de um “ambiente de negócios sedutor”. Mas a vida real, teimosa que só ela, não acreditou. Diante de um povo sem dinheiro e sem perspectivas, a economia ficou estagnada.
A ortodoxia cega de Paulo Guedes arranca a pele do povo para agradar meia dúzia, mas a economia não reage.
Esta semana, vimos mais um desastre. A taxa básica de juros, a Selic, subiu de 5,25% para 6,25% ao ano, o nível mais alto desde junho de 2019. E a previsão do mercado é que os juros continuem subindo, chegando a 8,5% no final de 2022 — os trabalhadores, que já ganham pouco, ainda precisam arcar com os aumentos dos alimentos, do gás de cozinha, dos combustíveis e das tarifas de energia elétrica.
O aumento da Selic é uma tentativa de frear a inflação — o Índice de Preços ao Consumidor para a quinzena (IPCA-15), anunciado pelo IBGE nesta sexta-feira (24) foi de 10,05%, no acumulado dos últimos 12 meses. Mas também é um tiro nas esperanças de crescimento da economia.
De que adianta arrancar a pele do povo para ter resultados econômicos tão calamitosos?
O Brasil viveu seu melhor período econômico durante os governos de Lula. E é bom lembrar a lógica que resume aqueles tempos: “O que movimenta a economia é dinheiro na mão do povo”, repete nosso melhor presidente. E está coberto de razão.
Um estudo do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) comprovou que cada R$ 1 pago pelo Bolsa Família se convertia em R$ 1,78 no Produto Interno Bruto. Porque pobre não especula. Dinheiro na mão do pobre movimenta o comércio do bairro, cria emprego no mercadinho, faz a roda girar.
Mas nada, nada mesmo comove a dupla Paulo Guedes/Bolsonaro.
Quando a pandemia bateu forte na economia e o Congresso Nacional aprovou o auxílio emergencial, o governo promoveu uma verdadeira sabotagem ao programa, antes de começar a pagar os R$ 600 determinados pelo Legislativo.
Quando o vírus mostrou que não arredaria pé tão cedo e ficou provada a necessidade de prorrogação do auxílio, os valores foram cortados e o universo de beneficiários foi reduzido.
Agora, para bancar o “Auxílio Brasil” — uma tentativa de ofuscar o sucesso do Bolsa Família tão associado à memória dos governos do PT — eles aumentam o IOF, onerando ainda mais quem recorre ao crédito, ao cheque especial e aos cartões para levar comida para casa.
A cada dia que passamos sob a incompetência e a crueldade da dupla Bolsonaro/Guedes, mais cresce a esperança na volta de Lula. As pesquisas já apontam uma vitória no primeiro turno.
E quanto mais Lula cresce, mais se assanham os acordadores de gigantes, tentando fazer cirurgia plástica na imagem de Bolsonaro—basta ver a imprensa de sempre se comportando como de costume. Não vão prosperar.
Ainda que novos rios de dinheiro para a propaganda voltem a jorrar, quem está muito acordado é o povo, que não aguenta mais pagar pela inconsequência de tantos e pela esperteza da indefectível meia dúzia.
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