Janaina Lima*
Em 2021 São Paulo vai entrar em uma discussão importante que terá impacto nos próximos anos na vida de cada cidadão da cidade. O poder executivo deverá encaminhar à Câmara Municipal a revisão do Plano Diretor. Aprovado em 2014, isso já era previsto para o ano que vêm, e mais do que uma oportunidade de corrigir prováveis falhas, é uma oportunidade de transformar a cidade em algo melhor, mais inteligente.
Uma cidade inteligente é aquela que utiliza a tecnologia para aperfeiçoar a experiência dos moradores, que reúne em um mesmo organismo setores como planejamento urbano, habitação social, energia, mobilidade urbana, coleta de lixo, controle da poluição do ar, entre outros. Tudo funcionando de maneira simétrica e otimizada, impactando diretamente na qualidade da vida das pessoas.
É esse tipo de planejamento que permite, por exemplo, que coisas que nos parecem banais sejam valorizadas, como transferir o tempo que se perde no trânsito ou em grandes deslocamentos, para o ganho que é passar essas mesmas horas ao lado dos filhos, familiares, amigos ou fazendo o que gosta. Esse tempo ganho, e não gasto, é fruto direto de como pensamos nossas cidades e a mobilidade dentro delas.
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São Paulo cresceu de maneira desordenada por muito tempo, bairros foram construídos e áreas diversas se estenderam sem planejamento. Os vários modais de transporte nem sempre se ligam, e bairros periféricos, muitas vezes, contam com ruas tão estreitas que dificultam o acesso ao transporte público. Novas tecnologias, como os aplicativos de transporte, quando surgem, não devem ser combatidas, mas sim usadas com inteligência e de maneira coordenada com as outras modalidades para que haja um ganho para todos.
Além disso, outras áreas entram no contexto da formação de uma cidade inteligente. Uma das mais preocupantes mas que pode se tornar uma das mais rentáveis, se bem trabalhadas, é a que implica na coleta e destinação de resíduos sólidos. Com um grande potencial de reaproveitamento em diversas áreas e mesmo da geração de energia através da implantação de usinas, São Paulo reaproveita muito mal o lixo que produz. Segundo a Associação Brasileira de Recuperação Energética de Resíduos (ABREN), novas tecnologias de produção de energia elétrica a partir de Resíduos Sólidos Urbanos (RSU) poderiam movimentar anualmente R$ 11,6 bilhões em investimentos em infraestrutura no Brasil, totalizando R$ 145 bilhões até 2031, grande parte disso em nosso município. É muito potencial desperdiçado enquanto se perde tempo com leis que não atacam a raiz do problema, como proibição de canudinhos.
Mas os problemas que impedem que São Paulo seja mais inteligente, vão além do problema do deslocamento e do lixo. Bairros mais planejados, um novo adensamento, verticalização ordenada, maior mobilidade, criação de novos eixos comerciais desde que se respeite as características específicas de cada bairro, tudo isso melhoraria a estrutura da cidade e aproximaria as pessoas de suas demandas, impedindo o desconforto de precisar rodar horas para se chegar a algum local e diminuindo a poluição, por exemplo. Tudo isso de maneira sustentável, que amplifique áreas verdes e revitalize as históricas, e que permita práticas como o retrofit para destinar de maneira útil construções mal utilizadas. Além disso, esse planejamento pode melhorar a segurança e influi na avaliação positiva dos moradores de uma cidade, fazendo com que eles queriam permanecer ali com satisfação.
A pesquisa Viver em São Paulo: Qualidade de Vida revelou, no início desse ano, que 67% dos paulistanos, se pudessem, se mudariam de cidade. Ao mesmo tempo, num ranking com as 165 principais cidades inteligentes do mundo, elaborado pela IESE Bussiness School, São Paulo ocupa a 116º posição entre as 165 analisadas. Apesar de ser a mais bem colocada entre as seis cidades brasileiras que aparecem na pesquisa, ainda é pouco. Precisamos melhorar em ambos os números, e subindo no ranking que torna nossa cidade mais inteligente, também diminuiremos o número de moradores insatisfeitos e com vontade de se mudar.
*Janaina Lima é advogada, militante da educação na primeira infância e vereadora licenciada pelo Novo em São Paulo.
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