A vitória do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva por uma diferença de apenas dois milhões de votos – a menor em uma disputa pela Presidência da República desde a redemocratização do país – dá o tom do quanto a última campanha presidencial foi acirrada. Mas, de forma alguma, os 60,3 milhões de votos de Lula, contra os 58,2 milhões obtidos pelo atual presidente Jair Bolsonaro, dão margem a que se ponha em dúvida a magnitude da força com que o petista volta ao poder. Ao contrário, esses dois milhões de votos a mais conquistados pelo ex-presidente nunca deram tanto respaldo popular a um político em toda a história do país. E isso porque, também como nunca antes visto em uma eleição nacional, essa foi uma disputa entre a democracia e a barbárie.
Ao pregar o compromisso com a democracia e a previsibilidade, Lula conquista seu terceiro mandato presidencial derrotando a azeitada máquina bolsonarista, habilmente construída usando indevidamente as estruturas do Estado. É cristalina a forma como as forças de segurança pública foram aparelhadas por Bolsonaro, e a disseminação de fake news, por meio da institucionalização do famigerado gabinete do ódio dentro do Palácio do Planalto, incitou os casos de violência política contra jornalistas e opositores.
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É bem verdade que o uso da máquina pública por quem está no poder, embora controverso, acontece em qualquer processo político. Bolsonaro, no entanto, elevou esse mecanismo a um patamar que extrapola o bom senso e sem se preocupar com qualquer critério. Nunca houve tanto abuso do poder político e econômico como nesta campanha presidencial – isso é fato.
Na tentativa de ganhar a reeleição, o atual presidente inflou as contas públicas, injetando R$ 40 bilhões na economia de forma descoordenada para segurar o preço dos combustíveis e conferir uma sensação de melhoria artificial no cenário econômico. Ao aumentar o Auxílio Brasil sem previsibilidade orçamentária e permitir que as pessoas, com isso, obtivessem empréstimo consignados, iniciou uma bomba relógio que explodirá no bolso dos brasileiros das classes mais populares e com menor poder aquisitivo. Isso sem contar o criminoso esquema do orçamento secreto, que despejou uma quantia inestimada de dinheiro público nos municípios brasileiros, abastecendo esquemas de corrupção e compra de apoio político.
Embora haja uma grande parcela do eleitorado o idolatrando e dando respaldo aos seus desmandos autoritários, Bolsonaro deixará o Planalto em janeiro, amargando a pecha de ser o único presidente no exercício do mandato a não se reeleger no país. Claramente, diante da estratégia golpista do presidente, ‘o tiro saiu pela culatra’.
Já com relação ao presidente eleito Lula, o que a história nos mostra até hoje é um arco narrativo marcado por uma das maiores reviravoltas já registradas na política nacional, descrito desde o momento em que o petista deixou o poder, em janeiro de 2011, com popularidade acima de 80%, até seu triunfo agora.
PublicidadeÉ preciso ressaltar que Lula não venceu apenas por conta dos votos do eleitor do Nordeste. O ex-presidente obteve uma votação histórica até mesmo no estado de São Paulo, onde conquistou mais de 11,5 milhões de votos, mostrando o crescimento das forças progressistas na região. E isso com um discurso desenvolvimentista, que prega o aumento da capacidade estatal de investimento público; a mudança para um modelo de desenvolvimento sustentável, equilibrando a economia com a proteção ambiental e o combate às mudanças climáticas; a necessidade de reajuste do salário mínimo acima da inflação; e a manutenção do valor do novo Bolsa Família. Tudo isso, ressaltando a importância da responsabilidade fiscal.
Como afirmou o presidente eleito em seu discurso, “a eleição colocou frente à frente dois projetos opostos e que hoje têm um único e grande vencedor: o povo brasileiro e a democracia”.
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