Passamos da hora de falar sobre a função da educação no Brasil. Esse é um tema que todos os postulantes a cargos públicos e todos cidadãos deveriam debater, não só em ano eleitoral. Afinal, não há mais condições de continuarmos tratando da educação de forma desordenada e propondo soluções nada milagrosas por meio de medidas provisórias.
A falta de avaliação, integração e valorização do ensino de base, bem como o ensino técnico no Brasil tem tornado nossa educação um verdadeiro remendo. Adiar mais uma vez esse debate seria fechar os olhos para o desenvolvimento dos nossos jovens e continuar lhes negando oportunidades.
No mundo afora detectamos duas grandes missões para o ensino: criar uma sociedade emancipada e qualificar a mão de obra no mercado de trabalho. Porém, no Brasil não só não temos conseguido equilibrar essas tendências como sequer priorizar alguma.
Grande parte dos jovens que saem da escola não têm a capacidade de opinião crítica e/ou a capacidade básica de interpretação. Resultados da penúltima Prova Brasil, referente a 2015, mostram que cerca de 60% dos alunos brasileiros do 5º ano não conseguem localizar informações explícitas numa história de conto de fadas ou em reportagens. No 9º ano, 88% não conseguem apontar a ideia principal de uma crônica ou de um poema.
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São números alarmantes que mostram a incapacidade do nosso atual modelo de ensino de auxiliar as crianças, adolescentes e jovens a construir pensamento crítico e interpretativo. E se não queremos que esses números continuem crescendo, precisamos repensar principalmente o nosso Congresso. Votar conscientemente naqueles que debatem as diretrizes da educação e fiscalizam o investimento e indicadores do Ministério da Educação – MEC.
Nossa população também não tem saído mais qualificada das escolas para o mercado de trabalho. Do ponto de vista de aumento da produtividade, o Brasil não apresenta crescimento significativo se comparado a outras nações. Estudo que observou diferentes países do período de 1980 a 2010, feito por Ricardo Paes de Barros, mostrou que a cada 3,3 anos a mais do trabalhador na escola temos o aumento de produtividade de 200 dólares para o país; enquanto para um trabalhador no Chile, os mesmos anos em séries geram um retorno de cerca de 10 mil dólares.
PublicidadeE isso acontece, em parte, em razão do governo investir pouco no ensino de base que atende boa parte da população pobre. Em 2017, a OCDE (Organização para a Cooperação de Desenvolvimento Econômico) mostrou que o Brasil é um dos países que menos gasta com alunos do ensino fundamental e médio. Enquanto isso temos despesas com estudantes universitários que se assemelham ao de países europeus.
Não existe dúvida da importância do ensino superior e da necessidade de investimento para capacitar profissionais e desenvolver ciência no Brasil. Porém, em um país tão desigual, não podemos ignorar a necessidade emergencial de investimento na rede pública de ensino de base, que tem sido sucateada.
Aqui no Distrito Federal, por exemplo, o investimento nas escolas caiu em 44,39 % nos últimos três anos. Tanto é, que entre 2011 e 2013, as escolas dos ensinos médio, fundamental, profissional, infantil e outras receberam R$ 121,5 milhões. Já no período compreendido entre 2015 a 2017, o montante caiu para R$ 67,5 milhões, de acordo com dados levantados pelo Jornal Metrópoles no Siggo (Sistema Integrado de Gestão Governamental).
Assim como a educação de base a educação técnica precisa ser valorizada. Precisamos deixar de vê-la como uma opção para aqueles que não conseguem adentrar em uma universidade, mas sim uma escolha de profissão. Ter um ensino técnico que crie perspectiva de consolidação de micro e pequenos empreendedores e não só empregos técnico-administrativo sem perspectiva de crescimento profissional pessoal.
Sabemos que não é fácil tirar todas essas medidas do papel. Porém, para começarmos, precisamos mudar os responsáveis por debater e dar as diretrizes sobre o assunto. Colocar no Legislativo pessoas que saibam da importância de trabalhar a educação com uma visão de médio e longo prazo. Não podemos deixar mais que o imediatismo resulte em jovens analfabetos funcionais, que não enxergam a oportunidade de um futuro mais justo.
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