Na viagem do presidente Lula à Argentina, um assunto estava na pauta: aumentar o fluxo comercial entre os dois países. Contudo, uma expressão fora do lugar foi suficiente para gerar muita confusão e ruído sobre o que de fato iria ser discutido. Vamos esclarecer.
Contextualizando, Brasil e Argentina por muito tempo mantiveram um fluxo comercial importante para ambas as economias. A Argentina seguia como principal parceiro comercial do Brasil na América Latina até 2018, com exportações brasileiras somando US$ 14,9 bilhões naquele ano, principalmente para os setores automotivo, manufaturados, químico, combustíveis e alimentos. Em 2019, pela primeira vez, a China tirou do Brasil o posto de principal parceiro comercial dos argentinos. Com a pandemia, essa posição foi de fato consolidada, enquanto o Brasil assistia sua pauta comercial com a Argentina diminuir e sua economia desacelerar.
Uma lição se desenvolveu após a pandemia e a guerra na Ucrânia: a necessidade de fortalecer o comércio near shore: parcerias entre países geograficamente próximos com o fim de reduzir os riscos da cadeia de fornecimento. E a crise pela qual a Argentina passa é uma oportunidade para que as relações com o Brasil se fortaleçam por meio de acordos de ganhos mútuos. Nesse contexto é que surge a ideia do Sur (que não é uma moeda comum!).
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Para que uma empresa exporte, o governo do seu país costuma ser o garantidor no caso de inadimplência. A dificuldade emerge porque a Argentina não tem reservas em dólar suficientes para garantir as operações de suas empresas. E por outro lado, o risco de inadimplência aumenta muito com a constante desvalorização do peso frente ao dólar. Probabilidade alta de inadimplência, falta de dinheiro para garantir o comércio e dependência do dólar, que é moeda de terceiro nessa relação.
A proposta que se põe não é reinventar a roda. Tampouco se trata de uma moeda corrente que substituirá o peso ou o real na carteira das pessoas. Na verdade, será um fundo de equalização formado por recursos do Brasil e da Argentina e que terá sua flutuação de câmbio será definida em regras próprias, e não terceirizada pelo dólar. Isso dará mais oportunidades para o comércio entre empresas brasileiras e argentinas, aumentado o fluxo e trazendo mais segurança na garantia das transações.
Não se trata de uma agenda da esquerda. Nem da direita. É uma pauta pragmática, de negócios, apartidária e que já foi tentada por diversos governos no passado.
PublicidadeNo curto prazo, ambos países ganham com o aumento do comércio. No médio e longo, representa uma grande influência geopolítica do Brasil na região para resgatar seu papel de protagonismo recentemente desbancado pelo gigante chinês.
A visão de Lula e de Alberto Fernández sobre o futuro das relações entre os dois países
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