Lucas Nascimento*
Infelizmente, os evangélicos são o grupo religioso que mais compartilha fake news. Se você é evangélico provavelmente já viu algum irmão ou irmã compartilhando alguma informação falsa em um grupo de Whatsapp ou em rede social. Claro, o problema das fake news ou da poluição informacional ou, como designa alguns especialistas, da zumbificação da informação não é exclusivo dos evangélicos. Mas não ser exclusivo não torna o fato menos grave, já que é grave o suficiente ser o grupo religioso que mais compartilha desinformação, ainda mais se considerarmos que a comunhão entre irmãos em Cristo, em vez de ser o lugar da partilha da verdade e do amor, tornou-se um solo fértil para a desinformação, a mentira e a promoção do ódio entre as pessoas.
Leia também
Mas isso significa que aquele irmão que compartilha informação falsa é desonesto ou mesmo tem consciência de que está compartilhando uma informação falsa? Não. Na verdade, isso aponta para o fato de que temos um longo caminho de educação para ajudar os evangélicos a liderem melhor com suas crenças no mundo da informação digital. E se quisermos contribuir para resgatar nossos irmãos desse lamaçal de informações falsas, precisamos identificar e distinguir quem é quem. Quais os evangélicos que compartilham fake news?
Para fazermos isso de modo adequado, é importante saber que o termo fake news, embora seja bastante popular, se tornou muito impreciso para definir a complexidade do problema, porquanto os especialistas e a Unesco propõem três noções: informação incorreta, má informação e desinformação. A partir disso eu proponho pensarmos a existência de três tipos de desinformadores, os quais podemos identificar em qualquer lugar, mas quero focar nos evangélicos.
O primeiro tipo de desinformador é aquele sujeito que manipula consciente e ativamente a informação falsa com a intenção de prejudicar alguém ou algum grupo de pessoas. Ele sabe que o que está divulgando é uma mentira, inclusive esse sujeito pode ter sido o criador da informação incorreta. Nas últimas eleições, vimos esse tipo de ação vindo dos próprios candidatos, e muitos deles cristãos. Pois bem, esse é o que estou chamando de desinformador ativo, aquele que sabe ou cria uma informação incorreta.
O segundo tipo de desinformador é aquele sujeito que compartilha informações que não são necessariamente falsas, mas que são exageradas e tiradas de contexto com o objetivo de enganar e causar danos a alguém ou a um grupo de pessoas. Isso é chamado de má informação e ao sujeito que a manipula, podemos chamá-lo de desinformador maldoso. Ou seja, pega-se uma informação privada de alguém e a torna pública com a finalidade de prejudicar ou atacar esse alguém publicamente.
O terceiro tipo de desinformador é o mais comum e do qual infelizmente a igreja evangélica está cheia. Ele é o sujeito que dissemina a informação falsa, mas acredita estar divulgando uma informação verdadeira. A pessoa não tem a intenção de causar danos e acredita, inclusive, estar ajudado os demais, pois crê que aquilo que compartilha é verdadeiro. Esse tipo de pessoa podemos chamá-la de desinformador passivo, ele contribui com o caos informacional, mas normalmente é levado a isso por falta de conhecimento ou letramento crítico.
Contudo, entre os evangélicos, parece haver algo mais que deixa nossos irmãos vulneráveis ao caos informacional, transformando-os em desinformadores. Penso que para além da falta de letramento digital crítico, a vulnerabilidade em se compartilhar notícias falsas está relacionada, sobretudo, às crenças e às relações de confiança que as pessoas mantêm em sua comunidade de fé. Diante disso, para ajudarmos nossos irmãos desinformadores passivos a saírem desse lamaçal de caos informacional, temos um longo caminho educativo pela frente, e a liderança evangélica é fundamental nessa empreitada.
Observação: os textos publicados pelo Observatório Evangélico trazem a opinião e a análise dos seus autores e não refletem, necessariamente, a visão dos demais curadores ou da equipe do site.
* Lucas Nascimento é analista do discurso e professor de Linguística do Departamento de Letras e Artes e do Programa de Pós-Graduação em Estudos Linguísticos da Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS), onde coordena o Colegiado de Letras Vernáculas/Língua Portuguesa e o Grupo de Estudos Dialógicos em Discurso e Argumentação. Doutor em Língua e Cultura pela Federal da Bahia (UFBA), faz estágio pós-doutoral no Programa de Pós-Graduação em Filologia e Língua Portuguesa da Universidade de São Paulo. Pesquisa discurso religioso evangélico, argumentação e polêmica. É evangélico batista.
O texto acima expressa a visão de quem o assina, não necessariamente do Congresso em Foco. Se você quer publicar algo sobre o mesmo tema, mas com um diferente ponto de vista, envie sua sugestão de texto para redacao@congressoemfoco.com.br.
Veja também:
As respostas enviesadas do ChatGPT sobre fake news e outros temas
Deixe um comentário