Cheguei a uma conclusão: deveria ser proibido o acesso de passageiros aos aeroportos. Eles atrapalham o bom andamento dos serviços e acabam sendo um transtorno para os encarregados de zelar pela segurança dos voos.
Há poucos dias, por exemplo, Mandy Simon, três anos, foi filmada sendo revistada em um aeroporto norte-americano. Entre uma apalpada e outra ela chorava e balbuciava as palavras “pare de me tocar”. Ou seja: Mandy é um incômodo. Vamos proibi-la de voar.
Ainda nos EUA, uma mãe ousou tentar viajar carregando uma mamadeira com leite para seu bebê, que ia no colo. Esta temeridade custou caro: o bebê levou o “bacolejo” costumeiro e a mãe teve que beber o leite para provar que não se tratava de algum explosivo disfarçado. Logo, mães amamentando e bebês importunam. Que sejam proibidos de viajar.
Há também o caso de Cathy Bossi, obrigada a retirar até a prótese colocada sobre seu seio em seguida a um câncer. E o de Erin Chase, apalpada por sob sua saia de forma tão humilhante a ponto de classificar o episódio como um “assédio sexual”. A conclusão óbvia é que mulheres incomodam. Que sejam todas proibidas de voar.
E Thomas Sawyer, 61 anos, um professor que, por conta de um câncer, viu-se obrigado a andar com uma bolsa coletora de urina? Durante o humilhante “bacolejo” a que foi submetido até a bolsa foi retirada, molhando-o completamente – foi assim que ele embarcou. Ao expor tamanha crueldade, doentes incomodam. Que sejam banidos dos aviões.
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Enquanto isso, na Alemanha, um senhor de 64 anos foi proibido de viajar porque carregava consigo uma garrafa de vodca – que bem poderia ser uma bomba disfarçada, sabe-se lá! Indignado, ele abriu a tampa da garrafa e simplesmente bebeu todo o conteúdo – um “porre-protesto”. Pois bem: provado que o álcool perturba a paz da segurança, quem gosta de bebericar deveria ser proibido de entrar nos aeroportos.
PublicidadeAinda naquele país um outro senhor foi impedido de embarcar porque carregava em sua maleta o livro “O Suicídio”, obra imortal de Émile Durkheim e um dos pilares da sociologia. A diligente segurança entendeu haver perigo no embarque de uma pessoa idosa preocupada com tais assuntos. Entendi que a leitura e a cultura expõem ao ridículo o governo. Assim, quem gosta de ler também deve ser proibido de viajar de avião.
E os aparelhos tipo “scanner”, que exibem fotografias detalhadas dos corpos dos passageiros? Na Nigéria eles tem feito a “festa” dos agentes, sendo utilizados como fontes de pornografia. No Reino Unido, um funcionário está sendo processado pelo mesmo motivo. E nos EUA alguém divulgou quase uma centena de fotos de passageiros despidos por estas engenhocas. Já os cientistas denunciam que estes aparelhos podem causar câncer. Resumo: com todos estes recatos e temores, os passageiros estão perturbando as políticas de segurança. Logo, o ideal é proibi-los todos de viajar de avião. Assim, acabarão as reclamações, protestos, confusões e tudo o mais que a incômoda presença de qualquer passageiro traz a um aeroporto.
Ironias à parte, talvez estejamos nos esquecendo de que nossos direitos civis não caíram do céu – foram conquistados ao longo dos séculos, e pagos com o sacrifício e até mesmo a vida de muitos semelhantes nossos. É quando arrisco dizer que uma civilização que renuncia aos seus direitos civis para combater o terrorismo já perdeu a guerra.
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