“Nosso medo mais profundo não é
sermos inadequados. Nosso medo mais
profundo é que somos poderosos além
de qualquer medida.” Nelson Mandela
Estamos vivendo exatamente essa semana, o 21 de março de 2023, o primeiro dia do primeiro ano de celebração do Dia Nacional das Tradições Africanas, uma das primeiras leis sancionadas pelo atual governo do país. Emocionada participo da banca de mestrado de Marasueli Felipe. Trata-se da Pedagogia Olodum. Epistemologia do Samba Reggae. De repente, recebo uma mensagem e um pedaço do diário oficial. É a nomeação de João Jorge Rodrigues como Presidente da Fundação Palmares.
O coração bateu forte. Dava para escutar como o rufar de todos os tambores do Pelourinho com suas vozes mais antigas, interligando mananciais de valores ancestrais em busca da nossa história, como princípio da humanidade inspirando o afeto que nos aproxima de todas as lutas de respeito às vidas. Palmares está de volta! Estamos vivendo a expectativa de “nós por nós” que é, sem dúvida, uma das mais
antigas procuras tecidas por uma relação implicada entre a comunidade negra, as leis excludentes, a violência policial e o direito às vidas sem práticas racistas e sem educação homogeneizante.
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Eu nasci na primeira metade do século passado. Eu sou do tempo que gente preta só tinha visibilidade nas páginas policiais. Criança preta nos livros? Nem pensar! Ana Célia sabe disso. Gente preta na TV só como doméstica ou escravizada/o. Mas eu sou também do tempo dos grandes debates do Movimento Negro Unificado (MNU) entre João Jorge, Lino Almeida, Jônatas Conceição, Bujão, Jorge Conceição, Vovô do Ilê Ayiê, Arani Santana, Manuel de Almeida Cruz, Katia Melo e muito mais negros e negras a exemplo de Luiza Bairros que iniciava os encontros chamando a atenção solenemente “vamos evitar discussões inócuas.”
Luiza Bairros tinha noção da importância das discussões naquele cenário onde seus protagonistas, mais cedo ou mais tarde, se confirmariam como grandes líderes. Acertou Luiza! Olorum cosi purê! O Olodum se confunde com a história de vida de João Jorge Rodrigues. Olodum para a Bahia é luz, é energia que sai de si e expande sem limites mundo afora. Conta-se que, em tempos remotos, negras e negros escravizadas/os tinham crises de banzo que paralisavam suas vidas. Neste tempo, um mais velho do lugar fazia uma roda onde as pessoas se juntavam, ouviam sobre os feitos mais importantes de seus ancestrais e se punham a cantar e dançar até a tristeza passar.
O som do Pelourinho parece com o som dos terreiros. Quando cantamos, tocamos e dançamos, a vida se renova mesmo que nada mude. É só ouvir o som do atabaque. Faz tempo que a imagem da Bahia não é mais a Igreja do Bomfim ou o Elevador Lacerda. O que nos representa hoje são braços negros levantados para o céu, segurando os tambores do Olodum como um gesto de luta contando histórias de vida
e gratidão. Acredito que hoje os tambores do Olodum devem soar ainda mais fortes no coração de João Jorge, Mestre em Direito, intelectual orgânico, líder de uma comunidade que acolhe mulheres, homens, meninas e meninos pretas/os pobres. Acolhe travestis, trabalhadores de toda arte, capoeiristas, intelectuais, diplomatas e quem mais chegar para contar suas histórias.
Parabéns, João Jorge Rodrigues. Bem-vindo trazendo de volta a nossa Fundação Palmares!
Kabiesile!
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