Dia desses li uma curiosa frase de Robert Heinlein: “o elefante é um camundongo construído segundo as especificações do Estado”. No mesmo sentido há outra de Henri Jeanson: “dê o Saara a um tecnocrata e, em cinco anos, o deserto estará importando areia”.
Ao ler estas frases fiquei a pensar no SIRCFFSTETT – trata-se de um tal “Setor de Investigações e Repressão ao Crime de Furtos de Fios de Serviços de Transmissões Elétricas, Telegráficas ou Telefônicas”, criado há alguns anos lá em São Paulo. Imagine a cena de um servidor deste setor preenchendo uma ficha cadastral em alguma loja: “eu trabalho lá no SIRCFFSTETT”!
Até os inocentes palitos de fósforo, quem diria, foram alcançados pelo tradicional furor burocrático de nossa administração, que os transformou em “uma caixa de madeira revestida com papel ou papelão, tradicionalmente encontrada no mercado para esse tipo de produto, com dimensões aproximadas de 35 x 48 x 15 mm, com lixa nas laterais e contendo uma média de 40 palitos de madeira, inflamáveis por atrito”. Ufa!
Tudo isto seria até cômico se não fosse trágico! Por exemplo: constatou-se que a burocracia aumenta em até 425% o custo dos imóveis, que aqui chegam a demorar cinco vezes mais tempo para serem construídos, em relação a outros países.
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E o comércio externo? Li que o Brasil tem inacreditáveis 334 órgãos para promovê-lo! Toda esta selva de órgãos e siglas está distribuída entre seis ministérios. Em um único deles, 82 dos 158 organismos relacionados ao comércio exterior têm a função de “estudo, análise e consultoria”. Já a “execução de políticas de comércio exterior” é responsabilidade de incríveis 78 entidades.
Alguém poderia sugerir a criação de um órgão que coordenasse todos estes outros. Perda de tempo: já existem 41 deles! O problema não é falta de coordenação – é excesso dela. Veja só: para exportar, um empresário brasileiro precisa passar por umas 20 instituições diferentes, o que consome em média 90 dias. Só para fins de comparação, nos Estados Unidos e na Europa a demora não chega a dez dias.
PublicidadeDiante desses dados, não causa espanto a conclusão do International Business Report, feito pela consultoria Grant Thornton em 113 países, colocando o Brasil no topo da lista da burocracia, com lamentáveis 60% das indicações. Somos campeões em papéis e siglas!
Há também um relatório do Banco Interamericano de Desenvolvimento, segundo o qual em média são necessários seis procedimentos, 8% do rendimento per capita e 27 dias para começar um negócio qualquer em um país rico. Já no Brasil há que se enfrentar 17 procedimentos, ter disponíveis 11,7% do rendimento per capita e ainda esperar com paciência 152 dias pela liberação final dos sábios da burocracia. Calculou-se que se o Brasil reduzisse só o tempo de espera veria um crescimento de 0,45% em seu PIB. E, se chegasse aos níveis europeus ou norte-americanos, alcançaria robustos 2,2% de crescimento. Isto tudo só eliminando papelada.
Encerro este texto recorrendo a Muhammad Yunus, economista ganhador do Prêmio Nobel da Paz de 2006 e criador da tese de que o apoio ao empreendedorismo da população de baixa renda é a melhor forma de reduzir a pobreza no mundo. Disse ele: “o dinheiro gasto em infindáveis burocracias seria muito mais bem aproveitado se fosse dado como crédito às pessoas mais necessitadas de nosso país”.
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