Pretendo me afastar do debate conjuntural que não anda nada estimulante. Provocado por alguns amigos leitores, pretendo me refugiar na discussão das ideias e teorias que movem a arena política contemporânea. A desconexão entre a produção teórica e a prática política, e a era das “verdades alternativas” e da torrencial produção de afirmações, verdadeiras ou não, presentes nas redes sociais, têm deixado como legado uma certa indigência intelectual e um sectarismo inédito, interditando o debate.
O próprio papel das ideias na transformação da vida e do mundo é tema controverso. A perspectiva revolucionária sempre acreditou que um conjunto de ideias e valores novos podem dinamitar a velha ordem e construir um mundo novo. Já a ótica conservadora se ancora na convicção de que as tradições e os costumes devem nos orientar na prudência necessária para a produção de reformas e mudanças.
A evolução civilizatória humana é determinada por uma série de condições materiais objetivas que limitam ou potencializam as mudanças. O grau de liberdade que temos não é ilimitado. Utopias e sonhos esbarram em limites concretos impostos pela realidade. Mas, não há dúvida de que as ideias têm uma enorme força transformadora. Elementos objetivos e subjetivos se cruzam. A luta política é fruto do confronto de ideias divergentes que assumem a característica de projetos de poder em busca de hegemonia na sociedade.
Leia também
Em uma de suas principais músicas, Cazuza clamava: “Ideologia, eu quero uma pra viver”. O ser humano não é dado a ficar ruminando um cotidiano modorrento e aceitando passivamente injustiças que saltam aos olhos. A capacidade crítica, o impulso para a inovação, a inquietação existencial, a vocação para a mudança, ponderada ou disruptiva, fazem parte da natureza humana.
No Brasil, houve uma radicalização extrema do debate político. Mas não só aqui. Basta ver os exemplos de EUA, França ou Itália. A questão central é que o atual debate tem a profundidade de um pires. O objetivo não é ouvir, compreender, dialogar, construir consensos. A busca é pelo aniquilamento do inimigo e a mobilização das respectivas bolhas. E isso, com ralas referências teóricas e históricas. Basta acionar a metralhadora retórica: “fascistas”, “comunistas”, “conservadores”, “neoliberais”, sem o mínimo de conhecimento sobre essas formulações ideológicas. E com uma pobreza de espírito e intelectual pujante.
Einstein ironicamente advertia: “Duas coisas são infinitas: o universo e a estupidez humana. Mas, em relação ao universo, ainda não tenho certeza absoluta”. Fora o exagero, é óbvio que um debate produtivo tem que ser respeitoso, reconhecendo a legitimidade do adversário, com abertura de corações e mentes, fundamentado, inteligente. No nosso país às vezes a coisa se agrava por conta daquilo que Millôr Fernandes identificou: “Quando uma ideologia fica bem velhinha, vem morar no Brasil”. Fascismo e comunismo são duas ideologias já superadas pela história, mas continuam aí como fonte de inspiração para muitos.
PublicidadeCom o espírito de Keynes, “quando os fatos mudam, eu mudo minha opinião”, atenderei aos amigos leitores que fizeram a provocação falando um pouco sobre as ideias e seu contexto que deram frutos ideológicos no mundo moderno: conservadorismo, liberalismo, comunismo, fascismo, reacionarismo, socialdemocracia.
O texto acima expressa a visão de quem o assina, não necessariamente do Congresso em Foco. Se você quer publicar algo sobre o mesmo tema, mas com um diferente ponto de vista, envie sua sugestão de texto para redacao@congressoemfoco.com.br.
Deixe um comentário