Vidros quebrados, ódio derramado, patrimônio depredado e uma tentativa frustrada de golpe de Estado. Foi o que o Brasil assistiu há exatamente um mês. Ao longo das últimas semanas, revisitar as cenas dos crimes praticados no 8 de janeiro foi inevitável. Ainda é difícil acreditar que a ousadia da extrema-direita brasileira tenha se concretizado com doses cavalares de omissão daqueles que deveriam proteger o patrimônio mundial da humanidade, a democracia e a própria ordem pública. Se por um lado isso nos causou espanto, por outro vale registrar alguns fatos e dados resultantes da coragem, responsabilidade e competência de alguns brasileiros e brasileiras.
Em primeiro lugar, a rápida e eficiente ação do Presidente Lula ao decretar a intervenção na segurança pública do DF, tão desmoralizada pela inação e pela conivência. Em segundo, a resposta da Suprema Corte em decisões fundamentais para que atos antidemocráticos não sejam tolerados e haja responsabilização pelos crimes cometidos. Também a manifestação e a unidade de parlamentares do Congresso, governadores e demais lideranças políticas em defesa da democracia. Nisso tudo, é possível perceber que a consistente e eficaz resposta dos três poderes da República foi decisiva para a significação dos atos perante a sociedade, permitindo que a imprensa brasileira pudesse aprofundar junto ao povo a gravidade do que ocorreu.
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Um dia após a barbárie, foi dada a largada para a reconstrução física e material daquilo que tentaram destruir. O primeiro passo foi dado pela ministra da Cultura, Margareth Menezes, que de pronto convocou os técnicos do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) para atuarem na avaliação dos danos e no estabelecimento de parcerias com as instituições que tiveram seus bens atacados pelos terroristas. Ao mesmo tempo, as áreas técnicas dos palácios e do Congresso iniciaram um intenso trabalho de restauro e reforma, o qual se encontra em estado bem avançado neste momento.
Também vale destacar a simbologia da posse das ministras Anielle Franco e Sonia Guajajara, realizada dentro do Palácio do Planalto parcialmente recomposto, num momento de força que impulsionou os passos seguintes. Em menos de um mês, o plenário do STF também já estava pronto para a abertura do ano judiciário, o do Congresso para a posse de senadores e deputados e o projeto de reforma da Praça dos Três Poderes avançando em um esforço conjunto da Secretaria de Cultura do DF com o Iphan.
Isso tudo prova que a extrema-direita fracassou no seu intento golpista. A democracia permaneceu de pé e os danos materiais já foram quase todos convertidos pelas ações de servidores, colaboradores e parceiros. Nosso país comprovou mais uma vez ser soberano na condução de instabilidades e crises internas, tanto pela capacidade dos servidores do Estado quanto pela força do campo democrático que carrega responsabilidade institucional.
Diante disso, abre-se um importante caminho a ser percorrido com a sociedade brasileira. Ele passa por um pacto em prol de uma formação cidadã, pautada nos valores democráticos e na reconexão das atuais e futuras gerações com sua própria identidade cultural. Não é admissível que alguém destrua o patrimônio pensando que aquilo carrega alguma legitimidade. Precisamos tratar nossos traumas históricos como a escravidão e a ditadura a partir de um forte projeto de memória, educação patrimonial e ocupação cultural dos espaços públicos que simbolizam nossa democracia. Isso será essencial para que a história não se repita. Neste momento, vale reafirmar: a democracia está de pé.
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