Dia desses meditava sobre como as coisas neste planeta poderiam ser mais simples. Bastaria que, dentro daquele conceito clássico de Ulpiano, cada um recebesse o que lhe fosse de direito. Simples assim.
Qualquer criança, por exemplo, compreende que pescar clandestinamente em águas pertencentes a outros países não está certo. Mas veja só: um monte de gente – adulta, claro – aparentemente ainda não entendeu algo tão óbvio.
Há poucos dias, por exemplo, a Oceana, maior organização mundial de defesa dos oceanos, denunciou ter monitorado navios oriundos da União Europeia pescando ilegalmente em águas africanas. Foram nada menos que 32 mil horas de pesca ilegal entre abril de 2012 e agosto de 2015.
O pior é que estes navios, segundo a denúncia, invadiram as águas de diversos países africanos devidamente autorizados pelos governos da Grécia, de Portugal, da Itália e da Espanha! A Oceana alertou para o fato de que este tipo de pesca é especialmente danoso por sua opacidade – não se sabe quanto ou que tipo de peixe foi pescado, e nem com qual instrumento, ensejando-se verdadeira atividade predatória.Leia também
Cálculos realizados recentemente indicaram que este tipo de pesca sangra a África em nada menos que US$ 2 bilhões a cada ano.
PublicidadeEnquanto isso, do outro lado do planeta, nos idos de 2014, a Coreia do Sul anunciou que a pesca ilegal praticada por embarcações chinesas superou 675 mil toneladas, causando perdas diretas estimadas em um bilhão de Euros.
Perto dali, entre 2014 e 2017, a Indonésia afundou nada menos que 317 navios estrangeiros, utilizados em pesca clandestina no seu mar territorial.
No que toca ao nosso país, um cálculo modesto, datado de 2001, indica que perdemos anualmente uns US$ 500 milhões sob esta rubrica. A propósito, bem resume a situação uma frase pronunciada por um funcionário graduado do Ministério da Pesca: “Há casos em que o peixe é pescado ilegalmente na nossa costa, levado para outros países e depois importado”. Deve ser por isso que importamos 1/3 do pescado que consumimos – algo difícil de entender em um país que tem uns 8.500 km de litoral.
Cheguei a uma conclusão: já distantes os velhos tempos nos quais somente causavam medo aqueles tubarões que vivem no mar – vejo que uma nova espécie, infinitamente mais perigosa e voraz, nos ronda em terra.
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