Eleições representam um avanço das sociedades democráticas. Como nenhuma instituição é perfeita, sempre haverá possibilidade de identificar defeitos e propor melhorias. Nem todos os defeitos são graves. Nem todas as melhorias melhoram. Temos que conviver com limitações e imperfeições.
A matemática ajuda a entender um pouco essa contingência: mesmo com a ajuda da matemática não seria fácil conseguir um sistema perfeito de escolha de candidatos. O tema não é novo. Mas é divertido e curioso.
Diversos matemáticos já se debruçaram sobre a questão. O primeiro deles foi Borda, que ficou conhecido pelo “paradoxo de Borda” apresentado à Academia Real Francesa em 1770. Em poucas palavras, ele demonstrou que, dependendo do sistema de votos, seria possível escolher um candidato que a maioria dos eleitores colocasse em último lugar. Por exemplo, se o eleitor pudesse escolher 3 candidatos em ordem de preferência, o eleito poderia ter mais votos absolutos, mas perder em comparação aos demais.
Outro matemático também francês, o marquês de Condorcet mostrou outro problema que pode surgir ao ampliar as escolhas. Se o eleitor puder colocar três candidatos em ordem, para escolher o melhor ele precisaria ser coerente, ou seja, colocar A na frente de B e na frente de C. Mas os grupos podem escolher em ordem diferente: uns escolhem A e B, outros escolhem B e C e outros escolham C e A.
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Este problema é conhecido como o problema da transitividade. Um terceiro matemático contemporâneo, Keneth Arrow, demonstrou que não existe um sistema democrático que poderia satisfazer simultaneamente todas essas condições. Liberdade traz complicações. E para preservar a liberdade temos que conviver com sistemas imperfeitos.
Mas as pessoas não se acomodam. Existe um grupo liderado por um taiwanês que propõe o voto negativo, uma espécie de @nelenão. Há uma associação internacional que promove o tema.
Ao invés de votar num candidato, o eleitor votaria contra um determinado candidato. Na década de 70 o matemático S.J. Brams já havia estudado as condições em que o voto negativo traria vantagens para o aperfeiçoamento do sistema democrático. Ficaria respeitado o princípio de “um homem, um voto”. Mas cada voto negativo retiraria um voto positivo desse candidato. O tema, portanto, não é novo, nem na Ciência Política nem na Matemática.
Os proponentes da ideia elencam três vantagens. Primeiro, aumentaria o espaço para o exercício da democracia: posso escolher quem quero ou rejeitar quem não quero. Segundo, seria mais atrativo para atrair eleitores que não gostam de nenhum candidato. No Brasil, isso já existe de certa forma, pois equivaleria ao nosso novo nulo ou em branco, só que não de forma explícita em relação a candidatos específicos. O mais interessante da proposta é a possibilidade de eliminar candidatos com ideias extremas. Esse problema havia chamado a atenção de Tony Blair – ex-Primeiro-ministro britânico, num artigo publicado em 2014 no jornal New York Times.
Não faltam ideias para aprimorar a democracia. Nem todas são viáveis. E as que são aparentemente viáveis não deixam de trazer novos problemas.
A vida em sociedade tem suas limitações. Quanto menos coesa a sociedade, maior a necessidade de convenções coletivamente aceitas. Maior o espaço para manipulação. E assim ficam mais expostas a fragilidade da democracia. Mas é o melhor que temos. Resta tirar dela o melhor proveito. Talvez não haja espaço para demonstrarmos nossa ojeriza por determinados candidatos. Mas sempre haverá espaços, no processo eleitoral, para ouvirmos e manifestarmos, democraticamente, nossas opiniões e preferências.
Daí a necessidade imperiosa da liberdade de expressão – por todos os meios: #nelanãosetoca.
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