Lula anunciou, enfim, as mudanças no Ministério. Abrigou partidos que até ontem eram os pilares do bolsonarismo. O PP entra no time com o deputado André Fufuca, no Ministério do Esporte. Para abrir a vaga, Lula mandou para casa mais uma mulher, Ana Moser. O deputado Sílvio Costa Filho chega como representante do Republicanos no Ministério de Portos e Aeroportos. O atual titular, Márcio França, ganhará uma nova pasta, a do Empreendedorismo. Seu partido, o PSB, reclamou — o presidente, Carlos Siqueira, chamou a reforma de “novela longa e de mau gosto”. Lula cedeu ao Centrão porque precisa de votos para governar. Não há, porém, garantia de que os terá.
O PP é o partido de Arthur Lira, que forçou a mudança no primeiro escalão, mas navega no comando da Câmara de acordo com seus interesses, não os do governo. Os deputados podem obedecer ao comando de Lira, mas no Senado não há ordem unida. Presidente do partido, Ciro Nogueira mantém o discurso oposicionista e elogios a Jair Bolsonaro. Tereza Cristina, ex-ministra da Agricultura, é contra a adesão e permanece crítica ao governo.
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O Republicanos também enfrenta essa ambiguidade. No Senado, é o partido do ex vice-presidente Hamilton Mourão e dos ex-ministros Marcos Pontes e Damares Alves. Na Câmara, quem manda é o presidente do partido, Marcos Pereira, ligado à Igreja Universal. Ele também já declarou que ficará “independente” do governo.
Até aqui, Lula conseguiu aprovar seus principais projetos. A reforma indica que continuará assim, mas o preço do apoio já aumentou e seguirá crescente. Por exemplo, na reivindicação do PP de dividir com Fernando Haddad o controle da nova Secretaria Nacional de Prêmios e Apostas, que vai gerir a arrecadação com as apostas esportivas — estimada em R$ 12 bilhões anuais. Márcio França também quer “turbinar” sua futura pasta. Tenta ganhar influência sobre o Sebrae — na impossibilidade legal de ter o órgão sob o ministério — e quer ter o comando da Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial.
O Ministério que tomou posse com Lula começa a se desfigurar, e a estrutura administrativa desenhada na posse vem sendo refeita para abrigar interesses políticos. Caso da Funasa, por exemplo, que deveria ser extinta, mas ganhou sobrevida. Lula vai moldando o governo às necessidades de ocasião, na expectativa de cumprir suas promessas. Parece disposto a abrir mão desses “detalhes”, deixando as críticas se dispersarem no ar.
A favor do presidente estão a inflação em queda, o emprego em alta e a aprovação de 40% da população a seu governo (25% o avaliaram como ruim, e 32% como regular), segundo pesquisa Ipec divulgada na quarta-feira. O instituto também verificou que metade da população confia em Lula — 47% tem estão do lado contrário e 4% não souberam ou não responderam.
PublicidadeEnquanto isso, Lula segue interessado em dedicar mais tempo à agenda internacional. Embarca hoje para a Índia, onde receberá simbolicamente o comando do G20.
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