*Arthur do Val
Antes dos anos 90, o instituto do impeachment, uma excepcionalidade prevista no sistema democrático brasileiro, parecia relegado a ser uma mera peça de enfeite.
Tudo mudou em dois episódios, o do ex-presidente Fernando Collor, em 1992, e o da ex-presidente Dilma Rousseff, em 2016. O impeachment ganhou notoriedade, tornou-se um remédio factível para nossa democracia e virou bandeira popular para grandes manifestações de massa que precederam a saída destes dois governantes.
Há quem argumente que o impeachment enfraquece a democracia, traz instabilidade e prejudica a economia. Sou de opinião contrária.
A história brasileira é singular. Os dois governos de transição, o de Itamar Franco e o de Michel Temer, foram governos de realizações, sobretudo econômicas.
Itamar, talvez o maior presidente do Brasil desde 88, nos legou o Plano Real e colocou o país nos trilhos depois de sucessivos planos fracassados. Michel Temer, a despeito dos problemas pelos quais passou o seu governo, conseguiu estancar a crise advinda dos erros do segundo mandato Dilma, e soube restaurar a confiança do investidor estrangeiro no Brasil.
Nada indica que nosso destino histórico não seja similar e pela terceira vez tenhamos um governo de transição superior ao seu antecessor.
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PublicidadeO governo Bolsonaro tem derretido mês após mês. Em praticamente todas as pesquisas, salvo as do período em que a União distribuiu o auxílio emergencial, Bolsonaro apresentou índices cada vez mais desfavoráveis.
As razões jurídicas do superpedido de impeachment, assinado por lideranças de amplo espectro ideológico, entre as quais parlamentares de esquerda, ex-apoiadores do presidente, e o deputado e líder do MBL, Kim Kataguiri, parecem convincentes. Peculato (art.312), prevaricação (art.319), difamação (art.139), e múltiplas tentativas de subverter as instituições democráticas estão na lista.
O governo Bolsonaro é um desastre total. Inabilidade política, declarações deploráveis sobre a epidemia de Covid, saudosismo da ditadura, agressões a jornalistas. Alia-se a isso o resultado pífio na economia, os 15 milhões de desempregados e a volta da subnutrição e da precarização alimentar.
É sempre bom lembrar que tanto a imprensa quanto as demais instituições democráticas estão sob risco. Em um gesto de esquizofrenia política, a pauta do voto impresso tornou-se na mão de Bolsonaro um meio de atacar a lisura das próprias eleições que o colocaram no poder. É preparação para algo mais perigoso: questionar o resultado das urnas caso ele perca e fomentar, aqui no Brasil, uma versão tupiniquim da invasão do Capitólio.
Por isso, mais do que nunca urge que todos os liberais e conservadores sérios não apenas repudiem Bolsonaro, como também saiam às ruas para a construção de uma manifestações em prol do impeachment.
A paródia grotesca que Bolsonaro criou do que significa ser de direita no Brasil precisa ser desmascarada. As manifestações do dia 12 de setembro tem um peso enorme, pois demonstram a insatisfação de um eleitorado que está se sentindo traído. O ato irá demostrar que Bolsonaro não possui mais as ruas, não tem a mesma força, o que inviabiliza uma tentativa de golpe.
*Arthur do Val, Deputado Estadual em São Paulo, é empresário, YouTuber e ex-candidato à Prefeitura, com 9,8% dos votos
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