Redes sociais, blogs, sites e similares, por uma razão provavelmente de índole não me conecto regularmente a eles. Tenho algumas rotinas para acessar informação, por gosto e necessidade de trabalho, e nessas horas procuro ler jornais – na versão digital sim – e acompanho alguns poucos perfis numa rede ou outra. Olhar a cada hora? A cada dia? Não. Minhas visitas ao que hoje domina boa parte do tempo de muita gente são escassas.
Também por índole, gosto de ouvir pessoas variadas, conversar, embora as oportunidades não sejam muitas. Boa parte do meu tempo leio coisas, mas elas por regra têm mais de 140 caracteres. Boas reportagens, articulistas do meu gosto, livros e artigos que acho importantes, úteis ou simplesmente prazerosos. Como disse Mário Quintana, estou regularmente sozinho e acompanhado.
Contudo, me pergunto: estou alienado? É claro que o mundo é vasto e sempre será, lembremo-nos de Drummond. Então, o que será que estou perdendo longe do universo digital hoje gigantesco? Familiares e amigos contam-me que gostam de um “influencer” ou outro, que na
internet riem, ouvem “podcasts” dignificantes e engrandecedores (“é só procurar”), e que muita coisa boa vem de lá. Não duvido. De fato, sou fã do podcast “Noites Gregas”, meu debut na área; sinto-me praticamente um próximo do simpático e cultíssimo prof. Moreno – recomendo!
Parece-me que a internet, e principalmente as redes sociais, contudo, para além de canal de informações, tornaram-se redes de emoções, afetos. Nesse sentido, encaixa-se muito bem no mundo cada vez corrido, demandante e muitas vezes solitário de muitas pessoas; encaixe, temo, frequentemente tóxico. Assim, mostra-se mais urgente e necessário refletir como nos relacionamos com as redes sociais. Em tempos de “vampiros emocionais”, parece-me que muita gente, de “influencers” a políticos, tem se aproveitado das fragilidades ou mesmo da ignorância emocional e afetiva das pessoas.
Algoritmos que buscam engajamento, assim como ações deliberadas de quem atua nas redes, valem-se da propagação de ódio, raiva, indignação para manter fidelizados expectadores que ao fim tornam-se apenas pequenos dígitos para recebimento de ganhos com publicidade ou votos. Vistas assim com a devida distância, as redes sociais são na verdade apenas mais uma esfera de convivência social para a qual nós seres humanos precisamos nos preparar para utilizar bem e interagir saudavelmente. Mais uma esfera, com características próprias, mas apenas mais uma.
Assim, de um lado precisamos refletir sobre o que nós buscamos nas redes, que pode ter se tornado uma armadilha ou gatilho para nossos ódios e sentimentos reprimidos, tensões não resolvidas. De outro, precisamos nos conscientizar que do outro lado da linha há pessoas como nós, sensíveis como nós e com fragilidades iguais às nossas, para o que é preciso respeito.
PublicidadeAssim, quando me pergunto se estou alienado, tendo a acreditar que minhas buscas informativas completam-se com o uso da internet. Já a questão das emoções e do afeto, estas são conduzidas com cuidado e cautela para dentro das redes, atento ao que esse novo mundo pode me trazer.
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