Quando assumiu a Presidência, depois do impeachment de Dilma Rousseff, Michel Temer pediu ao Congresso uma autorização para gastar mais. Naquele ano de 2016, o governo petista havia previsto um déficit de R$ 90 bilhões. Temer conseguiu licença para ampliar o rombo em até R$ 170 bilhões. “É realista”, justificou o presidente, então interino. Alegou que, sem isso, seria preciso cortar investimentos e despesas. O PT protestou. Rejeitou dar um “cheque em branco” ao governo “golpista”.
O Brasil estava quebrado. O ano anterior terminara em recessão — inflação de 10,7%, queda de 3,5% no PIB e taxa de juros de 14,25%. As contas governamentais apresentavam um buraco de R$ 115 bilhões. Isso não impediu Temer de optar pelo aumento de gasto naquele momento. Depois do trauma do impeachment, achou que seria necessário consolidar uma base parlamentar forte para governar — e sem gastar, não seria possível. Temer liberou em sete meses um volume de recursos para emendas parlamentares ao Orçamento maior do que Dilma o fizera no ano anterior.
Nas eleições municipais daquele ano, o MDB de Temer foi campeão de votos, elegeu 1.038 prefeitos. Seu principal parceiro no impeachment, o PSDB, fez 803 prefeitos. O PT perdeu mais de 60% dos municípios que administrava e ganhou em apenas 254 cidades.
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No dia em que comemorou 78 anos, o presidente Lula anunciou que a meta de déficit zero nas contas públicas, defendida por seu ministro da Fazenda, Fernando Haddad, dificilmente seria cumprida. “Não quero fazer corte em investimento e obras”, justificou.
Desde 2015, o Congresso vem aprovando mudanças para reduzir a dimensão do poder do Executivo sobre o Orçamento, tornando-o cada vez mais impositivo. O volume de emendas sob controle dos parlamentares cresceu. Foi-se o tempo das filas de deputados nas salas de espera da Esplanada dos Ministérios com pedidos de recursos para municípios. Hoje, ministros é que precisam pedir ao Congresso. É esse “cimento” — além do controle de cargos na administração pública — que une a heterogênea base que Lula precisa para governar.
Na última terça-feira, depois de uma reunião do presidente com líderes da Câmara, o ministro Alexandre Padilha (Relações Institucionais) comemorou a consolidação da aliança governista com “uma saudação especial ao líder do Republicanos e ao líder do PP, que são duas bancadas que ingressam definitivamente com bancadas federais nessa frente ampla da base na Câmara dos Deputados”.
PublicidadePara conquistar partidos que até as eleições de 2022 estavam aliados a Jair Bolsonaro, Lula fez alterações no ministério. Sob pressão, libera recursos de emendas. A presidente do PT, Gleisi Hoffmann, se diz incomodada. Critica partidos do centrão e seus “interesses políticos insaciáveis”, admitindo implicitamente mudanças no eixo do poder no governo.
O PT vive seu pior momento nos municípios. Em 2020 elegeu apenas 183 prefeitos, nenhum deles em capitais. Em São Paulo, por exemplo, administra apenas quatro cidades — o PSD tem 329 prefeituras (51% do estado). O PL de Bolsonaro, 56. O partido aposta tudo na ajuda de Lula para voltar a ser competitivo nas eleições do próximo ano. Não será fácil.
Os maiores beneficiados de uma política de expansão de gastos tendem a ser os sócios do governo no Centrão, que, acabam de ganhar do ministro Padilha uma “carteirinha” do clube. É deles que Lula precisa para chegar a 2026.
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