Jean Paul Prates *
Durante uma oitiva da CPI da Covid, na última quinta-feira (26), perguntei ao depoente — suspeito de participar do esquema corrupto na compra de vacinas — se ele era integrante do “bloco verde-amarelista” que serve de apoio ao desgoverno Bolsonaro. O inquirido escolheu não responder à pergunta, fazendo uso do direito ao silêncio, para não se incriminar.
Fossem outros os tempos, seria inusitado que alguém considerasse incriminatória sua condição de apoiador de um governo estabelecido e em pleno controle dos aparatos de força — não esqueçamos nunca que os perseguidos, torturados e assassinados por confrontarem a ditadura militar tiveram sempre a coragem de explicitar seu lado, mesmo com a vida em jogo.
Mas esse País virado do avesso tem dessas surpresas: os usuários de camisas da CBF, participantes de manifestações raivosas e trombeteadores de um “Brasil acima de tudo” começam a temer serem incriminados por seu abraço à insanidade bolsonarista.
É compreensível. Em algum momento, será necessário prestar contas pelas quase 580 mil mortes da pandemia, pelo desmantelo econômico, pela volta da fome, da inflação e do desespero.
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Entre os que apoiaram a ascensão de Bolsonaro, é possível encontrar muitos sinceramente arrependidos. Mas, no núcleo duro dos skinheads verde e amarelos, a debandada e o silêncio é muito mais uma esquiva das cobranças do que uma autocrítica.
PublicidadeO fato é que encolhe a olhos vistos o contingente de papagaios interesseiros e mal-intencionados com coragem de vir a público bater no peito e jurar amor eterno ao projeto mitômano que os colocou em marcha para destruir o Brasil.
É uma horda minguante, que jamais terá a dignidade, a brasilidade e a beleza dos indígenas que esta semana tomaram a Praça dos Três Poderes, em Brasília, para reclamar seu direito às suas terras ancestrais e reconectar corações e mentes com a ideia de um país diverso, amoroso e inclusivo.
enho engulhos, nojo mesmo — e sei que não estou sozinho — com o uso calhorda que o bolsonarismo faz do falso patriotismo para acobertar o oposto. Dos patifes que pretendem induzir nosso povo a emprestar sua bandeira para cobrir tanta infâmia e covardia, como já definiu o poeta.
Nossa bandeira não pode servir de biombo para a ação de medíocres e picaretas que perpetram falcatruas na compra de vacinas, que praticam corrupção, engendram embustes na recomendação de medicamentos inúteis, se associam à aprovação de reformas que anulam direitos trabalhistas, previdenciários e assistenciais.
Como quis Castro Alves, não podemos permitir que o pendão verde e amarelo tremule sobre o assassinato da juventude negra, sobre o feminicídio, sobre a perseguição à população LGBT, sobre o massacre físico e cultural dos povos indígenas.
Nossas cores nacionais não podem mais servir de brasão para a torra do patrimônio público e para a devastação de nossas riquezas naturais.
Quanto mais se investiga o governo Bolsonaro — na CPI da Covid, nos inquéritos sobre fake news e ataques à democracia, na observação das medidas desumanas tomadas contra o povo — mais se revela o retrato horrível de um país que não queremos.
Chega de aviltar o patriotismo. Essa gente nefasta não fala em nome do Brasil.
*Jean Paul Prates é senador da República pelo Rio Grande do Norte e líder da Minoria na Casa
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