Acreditem se quiserem: economistas influentes acreditam que os consumidores são livres em suas escolhas de consumo, em nada influenciados pela propaganda. Foram doutrinados a acreditar na “soberania do consumidor”, que decide livremente o que consumir. Ó liberdade, quantos crimes se comentem em seu nome!
Tais analistas são, para lembrar Keynes, escravos de economistas mortos. Infelizmente, muitos deles ajudam a definir o destino de seus países, o que sem dúvida contribui para explicar a degradação em que vive a maior parte dos humanos.
Recentemente li na imprensa, de autoria de um jornalista, muitos dos quais também presos a ideias ultrapassadas, relato sobre a “preferência dos consumidores” brasileiros por SUVs, aqueles carros gigantões que tomaram de assalto os EUA, mas nem tanto a Europa, e que passaram a ocupar, cada vez mais, as congestionadas ruas e avenidas do Brasil. Segundo o relato, tais veículos “caíram no gosto dos brasileiros” que, em maioria, pretendem adquirir uma SUV (sigla para veículo utilitário esportivo, mais um anglicanismo no português brasileiro). No ano passado, as vendas desses SUV, que melhor seriam chamados ADM, aumentaram 18%. Vejam só: pelo texto, ninguém promoveu, ninguém ajudou; os veículos, “por si só”, caíram no gosto dos brasileiros!
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Pergunta-se: isso ocorreu sem qualquer ajuda da publicidade? Que mal gosto teriam os europeus, que não caíram de amores por esses tais ADMs, publicitariamente chamados de SUVs, em truque de linguagem similar ao que faz a extração de petróleo ser chamada, pela indústria e pela imprensa, de produção? Essa troca de vocábulos não é, ela mesma, parte de uma publicidade enganosa?
Uma pesquisa recente, na Inglaterra (The Guardian, 03/06/2022), traz informações importantes e, até agora, praticamente desconsideradas sobre a poluição veicular. Além dos gases de efeito estuda expelidos pela queima dos carburantes, hoje muito reduzida em veículos novos, em razão da regulamentação estatal, há uma quantidade ainda mais letal de partículas colocadas em suspensão em razão do desgaste dos pneus. São partículas de poucos nanômetros, tão pequenas que penetram a corrente sanguínea dos animais, inclusive humanos. Muitas delas cancerígenas. E, claro, como os SUVs, ou ADMs, são mais pesados que os carros “normais”, eles expelem quantidades bem maiores dessas partículas. Noutras palavras, é como se conviver com esses veículos fosse equivalente a fumar, fumar, e fumar….
Aliás, vale lembrar a defesa da “liberdade” dos consumidores feita pela indústria do fumo ao afirmar que, apesar de seus gastos milionários promovendo o tabaco, a escolha – fumar ou não – seria um direito, uma afirmação da liberdade individual. Postar informações sobre os malefícios daqueles produtos seria ir contra a democracia, contra a liberdade. Apenas a indústria podia, com a dedicada e lucrativa ajuda de Holywood, convencer os consumidores que fumar era chic e subornar autoridades para evitar restrições ao produto.
Segundo essa última pesquisa citada, as partículas tóxicas decorrentes do desgaste dos pneus foram até 2.000 vezes piores que o que sai do escapamento. Até o momento, em nenhum país há regras sobre o desgaste e a composição química dos pneus, embora o volume de partículas emitidas e sua toxidade sejam imensas. E o problema, já grave em razão do aumento do peso dos veículos com a promoção, pela indústria automotiva, dos seus SUVs/ ADMs, deve ainda se agravar com a ampliação do parque de automóveis elétricos, cujas pesadas baterias tendem a agravar a situação.
Assim, enquanto hoje se promove o uso dos automóveis elétricos, quando o necessário para evitar os graves problemas do aquecimento global seria promover não automóveis mas sim ônibus elétricos, permite-se a continuidade da “glamourização” dos SUVs, que deveriam, de fato, chamarem-se ADMs, ou seja, Armas de Destruição em Massa! Procuradas e não encontradas no Iraque, estão sendo espalhadas mundo afora, com o beneplácito de governos, da indústria, da imprensa e de tantos outros….
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