– Isso mesmo que eu disse, mulher: esse governo Bolsonaro é a prova cuspida e escarrada de que mentira é que nem rato, que pode até se esconder debaixo do armário, mas sempre deixa o rabo de fora!
– Mulher, tu enlouquecesse, foi? Onde tu visse isso, me diz mermo?
– Em tudo, mulher, em tudo! Moço, quanto é o quilo? Tudo isso? Num tô dizendo! Todo dia a gente liga a televisão e escuta eles dizendo que as coisas tão melhorando, que os mais pobres agora vão viver melhor… Mas ainda ontem mesmo aquele comentarista tava metendo o pau no governo porque o tal de PIB anda crescendo mas é pra baixo que nem rabo de cavalo, e quem se ferra é nós!
– Mas isso vem lá dos governos do PT, mulher! Até arrumar isso vai demorar uma eternidade!
– Pois então que não fale que tá melhor porque não tá. Não tá! O PT fez um monte de m… Cala-te, boca! Fez. Fez! Mas agora tá igual. Tudo que eles dizem agora a gente pega na mentira. Tudo. Dizem que combatem a corrupção mas se esquecem das safadezas daquele filho dele com esse tal de Queiroz – por falar nisso, mulher, tu tem ouvido falar do Queiroz?
– O chão abriu e ele entrou.
– Mas deixou o rabo de fora. Inda outro dia acharam mais safadeza: um caminhão de dinheiro entrando e saindo das contas dele. Ali tem… Mas mudando de pau pra cacete: dorme e acorda dizendo que quer mais segurança, mas mandou os caminhoneiros pedirem o porte de arma…
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– E usarem! Disse que arma não é só pra ter não: é pra dar tiro!
Até tu já começou a desconfiar!
– Tá vendo, mulher, como até tu que votou nele já tá desconfiando dessa conversa? Mais arma, mais tiro, mais insegurança, né não? Quer ver mais: diz que é moralista mas no carnaval mandou pra Deus e o mundo aquele home metendo o dedo nas partes e mijando na cabeça do outro…
– Ugh! Até enguiei! Ah, mas isso é besteira, qualquer um…
– E aquele mico que ele fez o Brasil inteiro pagar dizendo que japonês tem pinto pequeno? Que horror! Isso sem falar que tanto ele como essa tal de Damares, só pensam naquiiiiilo! A mulher tem fixação “naquiiiilo!” E mais: ele diz que é machão, que usou o apartamento funcional “pra comer gente”, mas não gosta de mulher!
– Tu é doida, é? Lava essa boca! Com uma mulher bonita que nem a dele tu acha que ele não gosta de mulher? Moço, uma couve. Mas daquela ali, a mais feínha, que é mais barata. Vou fritar mesmo…
– Então porque foi que ele disse que só teve filho homem mas aí deu uma “fraquejada” e teve uma filha mulher? Sem falar naquelas coisas que ele disse pra deputada, aquela. Vê bem, eu não tô desconfiando da macheza dele, mas só lembrando o que ele mesmo disse.
– Nisso tu tem razão. Mas mudando de seis pra meia-dúzia: tu diz que o que ele fala não se escreve, mas ele é religioso, vai à missa, vai até nos cultos evangélicos… Num vejo contradição.
Vai, reza e defende a tortura. Eu posso?
– Vai e até reza. Mas defende a tortura, mulher. A tortura! Não, moço, eu falei “tortura”, e não “verdura”. Pois bem: ele vai à missa mas defende tortura. Se esquece que o Senhor Jesus – deixa eu me benzer que eu me benzo toda vez que eu falo o nome d’Ele – morreu debaixo de tortura! Amém ou não amém?
– Amém, mulher! Amém. Tortura braba. Moço, pode ir somando aí mas me veja um desconto porque o negócio tá é feio… Daqui a pouco o Wilderclayton quer ir pra faculdade, mas, com que dinheiro? Numa cidade miúda como a nossa não tem faculdade e nós não temos como pagar pra ele ir morar fora…
– Pois é, mulher, e esse ministro da educação tirando dinheiro das universidades porque diz que só tem balbúrdia. Só se for lá na… Hum, cala-te boca!
– Tem razão. E gravou um vídeo parecendo o coringa do Batman, de guarda-chuva…
– Mary Poppins! Ministro Mary Poppins! Minha filha mostrou um retrato da Mary Poppins. Escritim! Mas o Bolsonaro tomou posse um dia desses, mulher, nem esquentou a cadeira, deixa o homem trabalhar…
– Trabalhar? Trabalhar? Que diabo ele foi fazer no Congresso só pra abraçar o Carlos Alberto da Nóbrega? Não tinha nada pra fazer lá no palácio, uma roupa pra lavar, um banheiro pra limpar? Podia ter convidado o Nóbrega pra jantar com ele, né não? E tra-ba-lhar na hora do expediente dele! Mas que nada. Passa o dia é no zap-zap, no tuíte, no feicibuque…
– Mas é um homem bom, do povo. Viu ele visitando os caminhoneiros?
– Pois o comentarista da rádio disse o nome disso aí: populismo. Explicou que é quando uma pessoa faz alguma coisa só pra parecer que é gente simples, igual a todo mundo. O Jânio num botava pó de giz no paletó pra parecer que tinha caspa, que é doença de pobre? Tudo que é político não bota chapéu de couro pra fazer média com nordestino? O Fernando Henrique andou até de jegue…
– Agora eu lembrei aqui: ele não perde a implicância com os gays. Já tá dizendo que o Supremo não tem nada de considerar crime fazer mal a gay. Tinha de esperar o Congresso votar uma lei.
– Hum! Até votar os bichinhos vão morrer tudo na maldade desse povo! Ah. Diz que defende o meio-ambiente. Pois devia defender era o ambiente inteiro e não dar cartaz pra quem desmata a floresta!
– Mas uma coisa é certa: não dava mais pra o governo ficar, que nem o PT fez, puxando o saco desse Maduro da Venezuela…
– Verdade. Mas tá na hora de parar de esculhambar o Congresso, o Judiciário, de dizer que quer mais poder, mais poder, mais poder…
– Senão fica igualzinho ao Maduro, né?
– Deixa eu ir que eu deixei um feijão no fogo e o tempo tá fechando. Foi bom a gente se ver. E pelo jeito tu tá descobrindo que caroço de batata não é semente de cebola…