A demissão do jogador de vôlei Maurício Souza pelo Minas Tênis Clube, anunciada quarta-feira (27), é mais um sinal da profunda mudança em curso no meio empresarial sobre a forma de lidar com a questão LGBT+. O clube mineiro resolveu demitir Maurício após o atleta usar as redes sociais para fazer comentários homofóbicos.
Ele ficou incomodado com o anúncio feito pela DC Comics de que o novo Super-Homem, filho de Clark Kent, se revelará bissexual. “Ah, é só um desenho, não é nada demais. Vai nessa que vai ver onde vamos parar”, publicou. Outro jogador de vôlei, Douglas Souza, que é assumidamente gay, estranhou a reação do seu colega na equipe olímpica brasileira que foi este ano a Tóquio: “Engraçado que eu não ‘virei heterossexual’ vendo os super-heróis homens beijando mulheres…”
Mesmo com a repercussão negativa, Maurício voltou à carga: “Hoje em dia o certo é errado e o errado é certo… Não se depender de mim. Se tem que escolher um lado eu fico do lado que eu acho certo! Fico com minhas crenças, valores e ideias”. Depois, recusou-se a apagar os posts e teve um comportamento contraditório. Pediu desculpas no Twitter, onde tem poucos seguidores, e publicou no Insta – onde é seguido por mais de 1,5 milhão de pessoas – um vídeo em que reafirmava a lealdade às suas convicções.
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Determinante para a rescisão do contrato foi a posição dos patrocinadores do Minas Tênis, a Fiat e a Gerdau Açominas, que cobravam uma retratação. A Aliança Nacional LGBTI+, presidida pelo colunista do Congresso em Foco Toni Reis, divulgou nota para afirmar que as três organizações “fizeram história”: “Num cenário em que pessoas LGBTI+ sofrem diariamente com manifestações e ações absurdas e excludentes, a iniciativa do clube e das patrocinadoras é animadora e demonstra que ainda há esperança; que ainda podemos sonhar com uma sociedade menos excludente, mais afetiva e humana. Infelizmente, ainda há quem considere manifestações e ações LGBTIfóbicas como ‘algo simples’; não, não são simples! São crimes e assim devem ser tratadas, ao rigor da legislação vigente”.
Como sabemos, a causa LGBT+ tem muitos inimigos poderosos. Basta dizer que tanto o presidente Jair Bolsonaro quanto o seu primogênito Flávio se solidarizaram com Maurício alegando que o direito à liberdade de expressão autorizava o atleta a fazer o que fez. Não faltam líderes religiosos e políticos que faturam alto explorando preconceitos muito arraigados em grande parte da população. Por mais triste que pareça, a homofobia dá voto e rende dízimos.
O lado bom dessa história é que o comportamento da Fiat, da Gerdau e do Minas Tênis ganha cada vez mais espaço na área empresarial, sobretudo entre corporações inovadoras e de grande porte. Marcas como Ambev, Avon, Basf, Bayer, Coca-Cola, Google, Itaú, Microsoft e Uber se comprometeram formalmente com a promoção dos direitos LGBTI+ (sigla para lésbicas, gays, bissexuais, transgêneros e intersexo).
PublicidadeTodas elas integram o Fórum de Empresas e Direitos LGBTI+, que reúne 143 companhias. Acesse a lista completa das empresas integrantes do fórum e os compromissos por elas subscritos. (Com Cynthia Araújo)
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