Um dos países no mundo com o maior índice de assassinatos de pessoas trans, o Brasil também registra números alarmantes em outros tipos de violência contra pessoas não cisgêneras. Um levantamento realizado pelo Transfobia em Dados, projeto dos jornalistas Caê Vatiero e Victória Ribeiro, aponta que candidatas trans sofreram ao menos 665 ataques transfóbicos nas redes sociais durante o período eleitoral.
O estudo “Violência de gênero nas eleições de 2022” analisou publicações feitas no Twitter entre agosto e novembro de 2022. Ao todo, foram 665 ataques transfóbicos cometidos por 591 usuários diferentes. A maioria dos ataques foi feita contra a deputada federal eleita Duda Salabert (PDT-MG), alvo de 457 deles, o equivalente a 68,41% do total. Também eleita deputada federal, Erika Hilton (Psol-SP) foi a segunda candidata que mais recebeu ataques. Foram 178 tuítes feitos contra a deputada, somando 26,65% dos ataques.
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Também foram identificados ataques contra a deputada estadual eleita Linda Brasil (Psol-SE) e às candidatas não eleitas Robeyoncé Lima (Psol-PE), Benny Briolly (Psol-RJ), Mariana Valentim (Cidadania-DF), Thabatta Pimenta (PSB-RN), Natasha Ferreira (Psol-RS), Marcia Rocha (Cidadania-SP) e Juh Guerra (PCB-RS).
Segundo a pesquisa, 24,36% de todos os ataques transfóbicos foram registrados em respostas a um único tuíte de Duda Salabert, feito no dia 5 de novembro. A deputada passou a sofrer diversos ataques após comentar que moveu um processo contra o deputado federal eleito Nikolas Ferreira (PL-MG) por transfobia.
Já que a justiça começou agir sobre Nikolas – suspendendo suas redes- poderia tb julgar os meus processos de racismo/transfobia contra ele
Lembrando que graças aos meus processos,Nikolas está impedido de andar armado . Minha contribuição p/sociedade 🙌😘https://t.co/1UPczRLwIX
Publicidade— Duda Salabert (@DudaSalabert) November 5, 2022
De acordo com o estudo, 83,9% dos ataques transfóbicos ocorreram após o 1º turno das eleições, após a eleição das deputadas. Questionamentos sobre a identidade de gênero das candidatas foram as maiores ocorrências, aparecendo em 331 publicações. Em seguida, aparecem uso de linguagem em desacordo com o gênero (232), adjetivação acompanhada de transfobia (167), discurso biologizante (100), discurso genitalista (59), ataque transfóbico direcionado à orientação sexual (17), patologização da transgeneridade (16), discurso religioso (12) e ataque associado à linguagem neutra (10).
Os pesquisadores identificaram que 85,56% dos ataques foram feitos por pessoas comuns. Entre os ataques identificados, três foram feitos por agentes políticos, sendo todos filiados ao Partido Liberal (PL): o deputado federal Nikolas Ferreira, o deputado estadual Bruno Engler e o vereador de Niteróri, Douglas Gomes.
Ao todo, 466 agressores (78,84%) identificados declararam apoio a algum candidato à presidência. Desses, 446 (95%) demonstraram apoio ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), 14 (3%) ao presidente Lula (PT) e seis (1,2%) a Ciro Gomes (PDT). Dois agressores (0,4%) declararam voto nulo. (Por Caio Matos)
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