Ninguém tem dúvidas sobre a centralidade da economia na vida da sociedade. Não é um vetor absoluto, mas preponderante. Produção, circulação de mercadorias, moeda, juros, distribuição de riquezas, formas de organização do trabalho, crédito, consumo, renda, inflação, câmbio, orçamento, investimento são traços fundamentais de um país e de qualquer ciclo histórico. É evidente que as dimensões políticas e culturais têm forte papel no desenho da dinâmica social. Mas a base de tudo é a economia.
Para os leigos, o economês – língua fechada dos economistas, às vezes, ininteligível e árida – torna a compreensão do funcionamento da economia ainda mais complexa e difícil. O engessamento da cabeça dos economistas com modelos teóricos rígidos e o distanciamento do cotidiano das pessoas comuns dificultam a comunicação com os pobres mortais não especialistas. O diálogo é obstruído por ruídos excessivos e evitáveis. A abstração excessiva, a falta de paciência e didática, a inabilidade emocional e a complexidade do assunto tornam quase impossível à população digerir e processar as informações oferecidas pelos especialistas.
E olha que o mais simples cidadão compreenderia o básico da economia ancorado em sua vivência com o orçamento familiar (receitas, despesas, dívidas, juros, preços) e sua experiência direta como trabalhador e consumidor (salários, lucros, investimentos, consumo, inflação), desde que os economistas simplificassem a linguagem e recorressem, em suas entrevistas e artigos, a imagens didáticas e metafóricas.
Leia também
Digo isso a propósito da entrevista que assisti de um deputado federal e economista mais à esquerda no espectro ideológico escandalizado com seus colegas de profissão que, nos tropeços de comunicação, passam uma falsa ideia de que são contra um crescimento econômico forte e um baixo nível de desemprego. E, em parte, tem razão. Já assisti a especialistas friamente diante das câmaras de TV afirmarem que o grave problema é que o PIB está muito forte e o mercado de trabalho muito aquecido, sem explicarem o conjunto da obra, como se torcessem pela recessão e o desemprego. Mas nosso deputado também não rezou a missa inteira.
Houve boas notícias no ano que se passou. O Brasil, em 2024, cresceu 3,3%. O mercado previa inicialmente 1,5%. O desemprego era estimado em 7,5%. No mundo real, foi o menor da série do IBGE, 6,6%. O salário real médio cresceu, a pobreza e a miséria diminuíram. Por outro lado, houve notícias ruins e preocupantes. A inflação ficou acima da meta (4,8%), os juros foram para a estratosfera (13,25%) e o dólar projetado em R$ 5 bateu em R$ 6 (nos últimos dias teve uma pequena queda). O que os economistas tentam advertir e o nosso deputado não conta é que as notícias ruins podem engolir as boas e o retrocesso anular os avanços.
A economia não é linear, é contraditória. É como cobertor curto, cobre o pescoço, descobre os pés. Vez ou outra, para alcançar um objetivo tem que sacrificar outro. O importante é que as pessoas apreendam raciocinar a médio e longo prazos. O desenvolvimento não pode se dar aos soluços e solavancos. Tem que ser consistente, estável e sustentável. De nada adianta voo de galinha ou montanha russa.
Mas, para que a sociedade compreenda isso, é preciso aprimorar a capacidade de comunicação dos economistas e o grau de informação da população.