O presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Alexandre de Moraes, nem se deu ao trabalho de responder detalhadamente ao amontoado de bobagens do mico que o presidente do PL, Valdemar Costa Neto, se viu obrigado a pagar por pressão do seu chefe com erisipela que ocupa o Palácio da Alvorada com ação de despejo programada para o dia 1º de janeiro.
Moraes concentrou-se apenas no mais flagrante dos erros do pedido do PL, erro travestido em esperteza, mas tão óbvio que chega mais a parecer ingenuidade. Em seu pedido, o PL considerou apenas o segundo turno da eleição. E ainda arriscou incluir uma nova conta do resultado apenas da eleição presidencial que, agora, daria uma vitória pela mesma apertada margem do resultado final para Jair Bolsonaro.
Bem, as urnas eletrônicas utilizadas no segundo turno são as mesmas que foram usadas no primeiro turno. E são as mesmas utilizadas para o registro dos votos em deputados federais e estaduais e em governadores.
O PL de Valdemar Costa Neto elegeu 99 deputados federais. Elegeu mais oito senadores. Terá, então, as maiores bancadas tanto na Câmara como no Senado (desta vez, elegeu-se um terço do Senado, com os senadores que já tinha o PL terá uma bancada de 13).
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Além dos parlamentares eleitos pelo PL, há ainda outros aliados do presidente atual, Jair Bolsonaro, que se elegeram por outros partidos. Caso da turma do Republicanos, como o vice-presidente Hamilton Mourão (RS) e a ex-ministra Damares Alves (DF), eleitas para o Senado pelo Republicanos.
E há os governadores aliados de Bolsonaro. O caso mais notório é Tarcísio de Freitas, eleito governador de São Paulo. Eis aí o busílis, como se dizia antigamente: Valdemar vai querer melar a eleição de todo mundo? Porque melar somente a de Luiz Inácio Lula da Silva, que mandará em 1º de janeiro Bolsonaro de volta para sua casa na Barra da Tijuca não dá.
PublicidadeMoraes impôs ainda outro nó no xeque-mate que deu em Valdemar. Se ele foi capaz de fazer um cálculo em cima da perna sobre a eleição presidencial, então que faça também o mesmo cálculo sobre as demais. Quem serão os deputados e senadores com suas cadeiras em risco? Os governadores?
O que aumenta a encalacrada de Valdemar é que o próprio autor da bobajada que amparou a ação do PL, o engenheiro eletrônico Carlos Rocha, afirmou que o seu estudo não se destinava a contestar votos, mas o funcionamento das urnas. O que ele diz ter questionado foram supostos problemas no funcionamento dos equipamentos eletrônicos, sem avançar no sentido de dizer que isso determinaria de fato algum erro na contabilização dos votos. Ou seja, a conta feita por Valdemar no caso da eleição presidencial foi em cima da perna mesmo.
O problema é que ainda que tivessem acontecido os problemas apontados por Carlos Rocha, eles não afetam a contagem dos votos daquelas urnas. E, como disse ao UOL o professor ivar Hartman, do Insper, ainda que se admitisse a necessidade de recontagem dos votos de tais urnas, isso seria muito fácil de fazer. Basta registrar os votos dessas urnas novamente e contar de novo. As urnas eletrônicas permitem que a contabilização total da eleição se dê em poucas horas. Ou seja, rapidamente resolve-se essa querela.
Na turma bolsonarista mais radical, a deputada Bia Kicis (PL-DF) chegou a declarar no Twitter que até correria o risco do seu mandato e de outros em nome do tal questionamento. Ela até pode colocar o seu mandato na reta. Mas Valdemar coloca na reta a grana em que irá sentar administrando o mais gordo fundo partidário do país?
Até as pombas do pombal em forma de prendedor de roupa que fica no meio da Praça dos Três Poderes sabem que Valdemar não filiou Bolsonaro ao seu partido porque morre de amores ao atual presidente. Valdemar colocou Bolsonaro no PL porque gosta de poder. Da mesma forma como colocou no seu partido José Alencar para ser vice de Luiz Inácio Lula da Silva em 2002.
Valdemar sabia que filiando Bolsonaro imediatamente se tornaria o chefe do maior partido do país. Como se tornou. A turma bolsonarista do antigo PSL murchou o União Brasil e foi para a sigla de Valdemar. Sabia que Bolsonaro vencendo ou não as eleições presidenciais, o PL sairia bem maior do pleito congressual. Como saiu. E sabia que é esse pleito congressual, para a Câmara, o definidor de todo repasse de dinheiro e tempo de TV dos partidos. Ele é a base de cálculo para tudo.
Feitas as contas, Valdemar concluiu que era bom negócio incluir o tiozão do pavê no seu partido, ainda que isso significasse ter Bolsonaro no seu ouvido fazendo pregações golpistas. Até onde de fato o Boy, seu apelido de Mogi das Cruzes, irá com isso é o ponto. Segundo informações, Valdemar inclusive procurou ministros do Supremo para se desculpar da ação. Até porque é bom lembrar que Valdemar precisa considerar ao comprar uma briga dessas com a Justiça seu próprio passivo jurídico.
É um jogo de pôquer. Valdemar blefou. Alexandre de Moraes pagou para ver…
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