Quatros testemunhas afirmaram ao portal The Intercept Brasil que policiais que trabalham na campanha do ex-ministro Tarcísio de Freitas (Republicanos) ao governo de São Paulo mataram a tiros um homem desarmado. A ação aconteceu na agenda do candidato em Paraisópolis, na capital, no último dia 17 de outubro.
A agenda do candidato foi suspensa no local em virtude de um tiroteio na comunidade. Na ocasião, o episódio foi usado politicamente pela campanha de Tarcísio e do presidente Jair Bolsonaro (PL), que tenta a reeleição.
Os relatos coletados pelo Intercept contradizem a versão apresentada pelos policiais militares no boletim de ocorrência registrado na 89ª DP, no bairro do Campo Limpo. Os agentes públicos de segurança afirmaram que avistaram criminosos portando armas longas em motos logo após ouvirem uma rajada de tiros de metralhadora.
Nas redes sociais, circula um vídeo que mostra o corpo de Felipe da Silva Lima, de 28 anos, estirado no chão. O jovem estava com uma perfuração no peito e cercado por policiais militares. Não há sinal de arma perto de Felipe. No boletim de ocorrência, não há qualquer menção sobre o fato dele ele estar portando uma arma. Duas armas de policiais militares que trabalham à paisana e estão entre os suspeitos de atirarem foram apreendidas. As armas são um fuzil Imbel 5.56 e uma pistola .40.
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Recentemente, o jornal Folha de S. Paulo revelou que um integrante da campanha de Tarcísio de Freitas solicitou que um cinegrafista da Jovem Pan apagasse imagens do tiroteio que aconteceu durante a agenda eleitoral em Paraisópolis. Segundo o Intercept, a ordem teria partido de Fabrício Cardoso de Paiva, servidor da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) que está licenciado para trabalhar na campanha do aliado do presidente Bolsonaro.
No dia da agenda, Tarcísio de Freitas (Republicanos), afirmou, sem provas, que o ocorrido durante a agenda na comunidade foi uma tentativa de “intimidação”. A tese foi rechaçada pelo governo de São Paulo. Na agenda, o candidato estava visitando um projeto social que inaugurou um polo universitário da comunidade quando os disparos começaram.
PublicidadeSegundo o Intercept, os primeiros membros da equipe de Tarcísio chegaram à sede do projeto na manhã da segunda-feira. Agentes da Polícia Militar de São Paulo (PM-SP) começaram a vistoriar carros em uma rua próxima, o que gerou incômodo inclusive no próprio projeto social. Cercado de seguranças e assessores, Tarcísio chegou ao local e a previsão era de que ele permanecesse por 10 minutos no local.
Após 30 minutos da chegada de Tarcísio, Felipe da Silva Lima e um outro homem identificado como Rafael chegaram de moto e falaram que a comunidade não queria a presença do candidato bolsonarista. “A comunidade não quer vocês aqui, vão embora”, disseram. Em seguida, dois homens ligados ao tráfico de drogas na comunidade foram para a esquina próxima ao polo universitário. Foi nessa hora que foi ouvida uma rajada de tiros distantes. Nenhum tiro, segundo as testemunhas, foi feito em direção à equipe de Tarcísio.
Felipe e Rafael retornaram na moto e foram recebidos a tiros quando tentaram falar com a equipe de segurança de Tarcísio. Um deles atingiu Felipe no peito. Rafael conseguiu correr e fugiu. Não há relatos de que eles atiraram na equipe do candidato de Bolsonaro, apesar da afirmação contrária dos policiais. Criminosos da comunidade tentaram resgatar o corpo de Felipe, mas não obtiveram sucesso.
As testemunhas afirmam que corpo de Felipe foi colocado numa viatura e levado para um posto de gasolina. Ele foi levado morto ao hospital. O Intercept encontrou marcas de balas em carros e trailers na direção do local onde Felipe foi atingido, a cerca de 100 metros da sede do projeto social.
O Congresso em Foco procurou a assessoria de Tarcísio de Freitas para a manifestação do candidato. O espaço segue aberto.
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