A direita brasileira repete desde sempre o discurso de que pede a intervenção das Forças Armadas para livrar o Brasil do caos das esquerdas. Por essa narrativa, a tal ameaça do comunismo é que estaria associada à violência. E foi assim que se tentou endurecer a lei antiterrorismo para que ela inibisse movimentos sociais.
Bem, diz a geometria que os extemos se encontram. E, de fato, o mundo tem vários exemplos de que a extrema-esquerda também pode ser brutal e violenta. Mas, no Brasil, a verdade é que quase sempre quando se fala de terrorismo os exemplos são todos de extrema-direita. Por aqui, terrorista sempre foi a extrema-direita. E seus atos terroristas sempre surgiram para tentar justificar mentiras para uma intervenção mais dura de modo a tornar o Brasil ainda mais brutal e violento.
A tentativa do terrorista George Washington de Oliveira Sousa – e é preciso chama-lo pelo termo correto, é terrorista – é mais um exemplo a mostrar que, no Brasil, tais ações estão sempre associadas à extrema-direita. No depoimento que deu depois de ser preso, George Washington explicou claramente que sua intenção foi mesmo a que se associa a qualquer ato terrorista: provocar, o caos, gera pânico, atemorizar as pessoas. De novo, associando isso ao delírio que os bolsonaristas incorporaram à forma como leem o artigo 142 da Constituição.
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Essa leitura torta do artigo 142 leva esses celerados a imaginarem que, caso provoquem o caos, as Forças Armadas irão intervir já que a Constituição destina a elas a manutenção da “lei e da ordem”. Ora, se no caso há alguém ameaçando a lei e a ordem é quem planeja explodir o aeroporto. E que, muito justamente por isso, vai preso.
Felizmente, na história do terrorismo brasileiro esse tipo de ação quase nunca deu certo. Mas vão aí alguns momentos históricos que mostram que terrorismo, no Brasil, é coisa da direita:
Sergio Macaco e o gasômetro do Rio
Sergio Ribeiro Miranda de Carvalho, que tinha o apelido de Capitão Sergio Macaco, integrava o esquadrão paraquedista de resgate da Força Aérea Brasileira (FAB), o Para-Sar. Em junho de 1968, ele se recusou a cumpri as ordens do brigadeiro João Paulo Moreira Burnier de explodir o gasômetro do Rio de Janeiro, dinamitar uma represa e jogar 40 líderes políticos no oceano para depois jogar a culpa dos atentados na esquerda. Sergio Macaco recusou-se a cumprir as ordens e, por conta disso, foi cassado pelo Ato Institucional nº 5, o famigerado AI-5. O capitão foi declarado louco e afastado da FAB. Mais tarde, o brigadeiro confirmou a existência do plano.
O Riocentro
No dia 30 de abril de 1981, um automóvel Puma explodiu no estacionamento do Riocentro. Dentro do auditório do centro de exposições, 20 mil pessoas assistiam a um espetáculo em comemoração ao Dia do Trabalhador, que reunia alguns dos principais artistas da Música Popular Brasileira. Os dois homens que estavam no Puma planejavam explodir bombas dentro do auditória, que provocariam uma tragédia, caso o atentado fosse bem sucedido. A bomba, porém, explodiu no colo do sargento Guilherme do Rosário, que morreu vítima da explosão. Ao seu lado, o capitão Wilson Dias Machado, que dirigia o carro, ficou gravemente ferido. Para manter a impunidade dos dois terroristas, durante as investigações o Exército brasileiro forjou evidências, tentando creditar o ato a grupos de esquerda.
O atentado atribuído a Bolsonaro
Em 1987, o hoje presidente Jair Bolsonaro foi apontado como envolvido em um plano de explodir bombas em quarteis e outras unidades militares do Rio de Janeiro, onde servia como capitão. A ação tinha o apelido de “Operação Beco sem Saída”. A operação visava desestabilizar o então ministro do Exército, Leônidas Pires Gonçalves, e o presidente José Sarney. Bolsonaro negou a participação nos planos, mas, na época, a revista Veja publicou um croquis da bomba desenhado pelo próprio Bolsonaro.
Lyda Monteiro e a bomba da OAB
No dia 27 de agosto de 1980, uma bomba explodiu na sede da Organização dos Advogados do Brasil (OAB), no Rio de Janeiro, matando a secretária do presidente do Conselho Federal da Ordem, Lyda Monteiro da Silva. Lyda, 59 anos, era a funcionária mais antiga da OAB no Rio. Quando ela abriu um pacote que chegara ao escritório, o artefato dentro dele explodiu. A bomba lhe decepou o braço e produziu outras mutilações. Lyda morreu no hospital depois. O atentado foi obra da linha dura do Exército, contrária à abertura democrática que o regime militar começava a fazer nos estertores da ditadura. Outros atentados a bomba ocorreram na ocasião: na Câmara Municipal do Rio de Janeiro e na redação do jornal Tribuna da Luta Operária, ligado ao Partido Comunista do Brasil.
Enfim, são alguns exemplos. Terrorismo no Brasil sempre foi coisa da extrema-direita.
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