Não foi apenas a deputada Carla Zambelli (PL-SP). O próprio presidente do PL, Valdemar Costa Neto, também procurou aproximação com o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) e presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Alexandre de Moraes. Como contamos por aqui, Valdemar declara-se arrependido da patacoada de contestar judicialmente as eleições presidenciais do ano passado. Ao ceder à pressão feita pelo ex-presidente Jair Bolsonaro, Valdemar acabou condenado por litigância de má fé e viu a gorda quantia do fundo partidário ser bloqueada para pagar uma multa. O dinheiro só começou a ser novamente liberado agora.
Ninguém irá declarar isso em alto e bom som. Ou, pelo menos, não declarará ainda. Mas a verdade é que os bolsonaristas já começam a desejar que Bolsonaro fique bem longe. Nos regulamentares 6 mil quilômetros que separam Brasília de Orlando. De acordo com interlocutores do PL, Valdemar, que antes do 8 de janeiro ansiava pela volta de Bolsonaro, agora já diz reservadamente que o melhor é que ele fique por enquanto por lá.
Na entrevista que deu à Folha de S. Paulo, Zambelli diz também ter ouvido de eleitores que iriam votar nela e não em Bolsonaro porque ela era mais “light” do que ele (imagine, estamos falando de alguém que saiu pelas ruas de São Paulo correndo atrás de uma pessoa com um revólver em punho).
Leia também
Enquanto isso, o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, ex-ministro de Bolsonaro e claramente eleito na esteira do bolsonarismo, encontra-se com o presidente Lula e trabalha em conjunto para mitigar a tragédia das chuvas no litoral paulista.
Em comum nos três casos, está a impressão de que o estilo Jair Bolsonaro de ser foi no mínimo momentaneamente aposentado. Se em algum momento, o modo beligerante de fazer política que Bolsonaro imprimiu trouxe dividendos para fazer com que o PL de Valdemar se tornasse o maior partido do país, Carla Zambelli a mulher mais votada e Tarcísio o governador de São Paulo, a manutenção desse tipo de estratégia agora é prejudicial. Levou o PL e a deputada a terem problemas com a Justiça. Em nada ajudaria Tarcísio a governar São Paulo.
O que se comenta no PL é que os episódios de 8 de janeiro teriam demarcado um momento no qual estar próximo de Bolsonaro deixou de ser uma solução para se tornar um problema. O vandalismo desenfreado dos bolsonaristas radicais uniu o mundo político numa reação contrária. A cena na qual Lula desce a rampa do Palácio do Planalto acompanhado dos chefes dos demais poderes e de todos os governadores do país, sem exceção, parece significar o sepultamento da aventura golpista.
PublicidadeParece impossível a essa altura separar as atitudes e os discursos de Bolsonaro do incitamento do que aconteceu no dia 8 de janeiro. Diante de um momento em que as forças políticas se uniram pra repudiar a tentativa de golpe, o discurso e as atitudes beligerantes do ex-presidente parecem ter se tornado um problema.
Claro, Bolsonaro é ainda um líder de massas e tem muitos seguidores. Mas há quem considere que talvez sua era no poder tenha feito aflorar mais o conservadorismo, tirando a direita do armário, do que exatamente ter estabelecido o surgimento mesmo de uma liderança personalista. É, por exemplo, no que Valdemar Costa Neto aposta ao repetir que Michelle Bolsonaro pode representar o ideário de direita do seu marido sem a sua rejeição. Será que Bolsonaro ficou fora de moda? Terá se tornado ele coisa do passado? Cenas dos próximos capítulos…
Deixe um comentário