A Coalizão em Defesa do Jornalismo (CDJor) divulgou nesta sexta-feira (13) um relatório que retrata os ataques sofridos pela imprensa durante a cobertura das eleições municipais brasileiras de 2024. Elaborado em parceria com o Laboratório de Internet e Ciência de Dados (Labic) da Universidade Federal do Espírito Santo (UFES) e o ITS Rio, o documento analisa as agressões contra jornalistas e meios de comunicação, tanto no ambiente digital quanto fora dele, no período de 15 de agosto a 27 de outubro. As análises destacam um padrão, especialmente relacionado a questões de gênero.
As jornalistas mulheres sofreram 50,8% dos ataques registrados, apesar de representarem apenas 45,9% dos profissionais monitorados. No Instagram, esse percentual foi ainda mais alto, atingindo 68,3%, enquanto no X foi de 53%. O estudo aponta que as críticas profissionais muitas vezes foram acompanhadas por insultos misóginos e comentários sobre a aparência. Vera Magalhães, âncora do programa ‘Roda Viva’, da TV Cultura, e comentarista da CBN, foi alvo de 32,3% das agressões no Instagram.
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Jornalistas negros também enfrentaram ataques severos, como foi o caso de Pedro Borges, cofundador do portal Alma Preta Jornalismo, que foi vítima de racismo nas redes sociais após a entrevista do então candidato a prefeito de São Paulo, Pablo Marçal, no Roda Viva. Parte dos insultos direcionados a ele se referia ao seu cabelo black power.
Ataques online
Foram documentados mais de 57 mil ataques digitais, com o X apresentando a maior incidência (35.876), seguido pelo Instagram (10.889) e TikTok (10.239). As agressões eram, em sua maioria, direcionadas a mulheres (50,8%) e utilizavam expressões como “lixo”, “militante” e “fake news” para deslegitimar jornalistas e meios de comunicação.
Ataques presenciais
Foram registrados 11 incidentes de violência física ou verbal contra jornalistas, incluindo ameaças, agressões e intimidações. Em 63,6% dessas situações, os agressores eram agentes políticos ou representantes do Estado. Diz trecho do relatório:
“Outro dado alarmante se refere aos agressores: 63,6% dos casos têm agentes estatais nesse papel, utilizando sua posição e influência para iniciar e intensificar ataques contra jornalistas, comunicadores e veículos de imprensa. Em uma democracia, onde a liberdade de imprensa é essencial para o funcionamento saudável das instituições, a violência praticada por funcionários públicos e atores políticos enfraquece essas bases. Em apenas 27,3% dos episódios fora das redes, os responsáveis por ataques físicos e verbais são figuras não estatais, enquanto em 9,1% os agressores não foram identificados.”
Estados
Os estados mais perigosos para os jornalistas durante a campanha eleitoral foram, respectivamente: São Paulo, Amazonas, Rondônia, Paraná, Paraná, Santa Catarina, Maranhão, Piauí, Bahia e Paraíba. Diz trecho do relatório:
“Entre as capitais com maior número de ataques no X, São Paulo liderou com 852 casos, seguida por Rio de Janeiro (54) e Fortaleza (13). No Instagram, Cuiabá despontou com 10.177 ocorrências, acompanhada por São Paulo (6.818), Porto Alegre (2.634), Fortaleza (1.451) e Porto Velho (292)9. Já no TikTok, São
Paulo liderou com 7.763 casos, seguida por Rio de Janeiro (66), Cuiabá (17), Fortaleza (13) e Porto Alegre (7). Esses números refletem como as dinâmicas eleitorais locais influenciam diretamente o volume de ataques em cada capital”.
Processos e decisões judiciais
O relatório registrou seis casos de processos e decisões judiciais utilizados para intimidação e limitação da atuação da imprensa, incluindo ordens de remoção de conteúdos (66,6%), suspensão de portais e perfis em redes sociais (16,6%), e outras formas de intimidação (16,6%). Em 83,3% dos casos, os responsáveis eram agentes estatais.
Vítimas
Entre os jornalistas mais visados, as mulheres sofrem ataques mais severos. Ricardo Noblat e Andréia Sadi foram os principais alvos no X, enquanto Vera Magalhães foi a mais atacada no Instagram, seguida por Clarissa Oliveira e Muriel Porfiro, ambas da CNN Brasil. Os veículos mais destacados como alvos foram O Globo, GloboNews e CNN Brasil.
Vera Magalhães foi alvo de uma série de comentários que questionaram sua imparcialidade, acusando-a de ser uma “militante de esquerda”. Mensagens depreciativas incluíram termos como “jornalista medíocre” e “vergonha do jornalismo”, além de associar sua atuação à TV Globo de maneira pejorativa. Comentários misóginos foram recorrentes, muitas vezes acompanhados de ofensas à sua aparência e de termos diminutivos como “Verinha”, utilizados para deslegitimar seu trabalho e reforçar estereótipos de gênero.
No TikTok, os ataques concentraram-se nos jornalistas Josias de Souza, do UOL, Carlos Tramontina, do Flow News, e novamente em Clarissa Oliveira, da CNN
Brasil. Entre as organizações jornalísticas, o UOL liderou como o mais mencionado negativamente, seguido pelo G1 e pelo Metrópoles, destacando um padrão de
hostilidade direcionado aos maiores portais de notícias do país.
Toxicidade
A avaliação de toxicidade identificou o X como a plataforma com maior toxicidade, seguida pelo TikTok e Instagram.
Recomendações
O relatório propõe ações para o Estado, redes sociais, organizações jornalísticas e a Justiça eleitoral, com o objetivo de proteger os jornalistas e garantir a liberdade de imprensa. As recomendações incluem a criação de proteção legal para jornalistas, responsabilização de agressores, medidas para tornar as plataformas digitais mais seguras e prevenção da violência física e judicial contra profissionais de comunicação.
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