Depois das críticas recebidas por terem subestimado a votação de Jair Bolsonaro (PL) no primeiro turno, os principais institutos de pesquisa do país se aproximaram mais do resultado das urnas na votação final desse domingo (30). Entre as 11 empresas que fizeram levantamentos para a corrida presidencial na semana passada, oito projetavam a terceira eleição de Lula (PT). Desses, quatro acertaram o resultado dentro da margem de erro.
O MDA, que realiza pesquisa para a Confederação Nacional do Transporte (CNT), praticamente cravou o resultado. Em levantamento divulgado no sábado, o instituto atribuiu 51,1% para Lula e 48,9% para Bolsonaro. A margem de erro era de 2,2 pontos percentuais. O petista foi reeleito com 50,9% dos votos válidos, enquanto o atual presidente recebeu 49,1% dos votos válidos. Essa foi a menor diferença da disputa ao Planalto desde a redemocratização, menos de 2 milhões de votos.
Os maiores erros foram cometidos pelos três institutos que projetavam vitória para Bolsonaro: o Brasmarket (53,6% x 46,4%), o Futura/Modal (50,3% x 49,7%) e o Veritá (51,2% x Lula 48,8%).
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Além do MDA, também acertaram o resultado, dentro da margem de erro de dois pontos, o Datafolha (52% x 48%), o Paraná Pesquisas (50,4% x 49,6%) e o Quaest (52% x 48%). Apontaram a vitória de Lula, mas com índices acima da margem de erro, o Ipec (ex-Ibope), o AtlasIntel, o Ipespe e o PoderData.
No primeiro turno, o Paraná Pesquisas (47,1% x 40%) e o AtlasIntel (50,3% x 41,1%) foram os que mais se aproximaram da votação. Em 2 de outubro, Lula recebeu 48,4% dos votos válidos enquanto Bolsonaro ficou com 43,2%.
Em 2018, o Datafolha cravou o resultado: 55% para Bolsonaro contra 45% de Fernando Haddad (PT). O Ibope acertou dentro da margem de erro, apontando 54% para o então deputado e 46% para o ex-prefeito paulistano. Bolsonaro se elegeu naquele ano com 55,1% dos votos válidos ante 44,87% do seu adversário no segundo turno.
Para Arilton Freres, diretor do Instituto Opinião, a proximidade entre o resultado e as pesquisas no segundo turno esvazia a ofensiva de bolsonaristas para criminalizar eventuais erros nos levantamentos eleitorais. A Câmara aprovou há duas semanas um requerimento de urgência para a votação de um projeto de lei com esse propósito. Os aliados do presidente também tentaram emplacar uma CPI para investigar os institutos.
“O que aconteceu no primeiro turno é o que sempre acontece, que é o esvaziamento das candidaturas que estão em terceiro e quarto lugar e o crescimento do candidato que está em segundo lugar. Teve outro fator que não foi considerado que é o crescimento dos candidatos que estão muito alinhados com as candidaturas nacionais”, explica Arilton.
Atraso no recenseamento
Segundo o pesquisador, a polarização política no país e o atraso no recenseamento dificultaram o trabalho dos institutos este ano. O diretor do Instituto Opinião ressalta que essas dificuldades ficam menores na segunda rodada de votação.
“No segundo turno, o voto envergonhado se dissipa. Fica mais fácil captar a tendência e chegar a um número muito próximo das urnas. Lembrando que pesquisa é retrato do momento. O que foi medido no sábado não necessariamente tem de ocorrer no domingo. Mas as tendências se confirmaram, com alguns institutos muito próximos”, afirma Arilton.
Após o primeiro turno, quando as principais pesquisas projetavam percentuais de intenção de voto menores para Bolsonaro do que o apurado das urnas, o governo tentou botar os institutos contra a parede, com a abertura de processos no Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) e na Polícia Federal. A ofensiva foi barrada pelo presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Alexandre de Moraes.
De acordo com Moraes, apenas o TSE tem competência para fiscalizar as organizações. O ministro também observou que as investigações não possuem justa causa e são baseadas em “presunções relacionadas à desconformidade dos resultados das urnas com o desempenho de candidatos retratados nas pesquisas”.
O presidente da corte eleitoral também ressaltou que não havia “menção a indicativos mínimos de formação do vínculo subjetivo entre os institutos apontados ou mesmo práticas de procedimentos ilícitos”. Curiosamente, ficaram fora do pedido de investigação os institutos que mais erraram, porque atribuíram a primeira colocação no primeiro turno a Bolsonaro.
Na avaliação de Arilton Freres, a proximidade entre as projeções das pesquisas e o resultado das urnas representa “uma vitória da democracia e da ciência”. “Só teremos condições de fazer pesquisas mais precisas quando tivermos os dados do Censo atualizado. Isso continua sendo um grande problema para os institutos para captar com precisão a opinião do eleitorado”, destaca. (Por Edson Sardinha)
Veja o desempenho das pesquisas no segundo turno divulgadas semana passada:
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