A combinação entre dinheiro e voto não resultou, necessariamente, em eleição. Essa foi uma das constatações apresentadas por duas cofundadoras da plataforma 72horas, que monitora as doações eleitorais, em live do Congresso em Foco nesta quinta-feira (24). Neste ano os candidatos tiveram à disposição R$ 6 bilhões em recursos públicos para gastar com a campanha eleitoral. Desse total, R$ 4,9 bilhões são do fundo eleitoral, criado em 2017 como alternativa ao fim do financiamento de campanhas por empresas privadas. Para Drica Guzzi, a despeito de as campanhas estarem cada vez mais caras, apenas o alto investimento não garantiu a eleição.
“Não posso comparar uma cidade como São Paulo, que tem 12 milhões de eleitores, com uma que tem 8 mil. São muitas diferenças. Mas o que a gente vê na distribuição dos recursos é que os recursos ficaram mais concentrados. E, por ficarem concentrados, eles acumularam. Poucos receberam muito. E não necessariamente isso virou resultado nas urnas”, pontuou ela.
Gisele Agnelli, também cofundadora da plataforma, destaca que, ao analisar as dez campanhas para vereador que mais arrecadaram em São Paulo, o valor médio declarado ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) para quem se reelegeu foi próximo a R$ 1 milhão. Os eleitos gastaram em média R$ 1,36 milhão, um valor muito próximo. Aqueles que não se elegeram declararam à Justiça Eleitoral uma média de R$ 160 mil.
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Das dez campanhas à Câmara Municipal de São Paulo, duas tiveram um alto valor declarado e não conseguiram se eleger: Zilu Camargo (União), que recebeu R$ 1,8 milhão de arrecadação, alcançou menos de 5 mil votos e não se elegeu. Cláudio Fonseca (PCdoB) arrecadou R$ 2,5 milhões e também não se elegeu. Dos dez candidatos a vereador na capital paulista que mais gastaram, quatro tentavam a reeleição.
“Após um certo ponto, gastar muito dinheiro em campanha eleitoral não resulta necessariamente num aumento proporcional de votos. Isso significa que há um limite para a eficácia do gasto em campanha. Num primeiro momento, os gastos podem melhorar, claro, significativamente a visibilidade do candidato – principalmente se não é candidato concorrendo à reeleição – e o alcance. Mas após um certo nível de saturação, todo gasto adicional tem um impacto cada vez menor. Ter dinheiro para os candidatos é crucial para responder os ataques dos adversários, para veicular sua mensagem, para visitar um número maior de bairros e mobilizar eleitores novos. Porém, não determina o resultado eleitoral”, observa Gisele.
A plataforma 72horas compila os dados do TSE sobre o financiamento de candidaturas. Além dos fundos eleitoral e partidário, os candidatos podem se autofinanciar ou receber recursos de pessoas físicas ou financiamento coletivo.
Parceria
A parceria entre o Congresso em Foco e a plataforma 72horas pretende dar maior transparência e controle social sobre a distribuição dos recursos que vão pavimentar a eleição dos representantes municipais. O dinheiro ou a falta dele pode ser determinante para o resultado eleitoral. Fiscalizar e dar transparência à distribuição e à utilização desses recursos são ações de cidadania em um país onde mulheres, negros, pretos e indígenas são sub-representados nas esferas de poder diante da histórica super-representação branca masculina.
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