Quase dois meses depois de lançar a pré-candidatura do deputado federal Luciano Bivar (PE) à Presidência da República, o União Brasil pode recuar do seu projeto presidencial. Bivar conversou duas vezes, recentemente, com o petista, que fez acenos para atraí-lo ao seu palanque. O deputado é simpático a uma eventual aliança com o petista, mas teme pela desagregação do partido, que reúne ferrenhos adversários do ex-presidente, como o ex-juiz Sergio Moro e o governador de Goiás, Ronaldo Caiado. O primeiro é pré-candidato ao Senado pelo Paraná e o segundo disputa a reeleição.
De acordo com fontes ouvidas pelo Congresso em Foco, Lula sinalizou com a possibilidade de a bancada do PT apoiar a candidatura de Bivar à presidência da Câmara, um sonho antigo do pernambucano. Antes disso, o petista se empenharia na reeleição de Bivar como deputado, hoje considerada difícil diante da disputa na legenda com outros dois candidatos considerados mais competitivos. “Bivar realmente vem falando com o PT. E isso é um desejo dele. Agora, não seria fácil. Muitos setores do partido agiriam amplamente contra esse projeto. Eu não vejo viabilidade”, disse em anonimato um interlocutor do parlamentar.
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Formado a partir da fusão do PSL e do DEM, internamente o União Brasil tem um consenso: a candidatura de Bivar nunca andou e há um risco eminente de se manter neutro no primeiro turno e não apoiar, oficialmente, qualquer candidatura presidencial. A ideia inicial de algumas lideranças do partido era deixar que os diretórios estaduais escolhessem seus candidatos a presidente no caso de uma eventual desistência de Bivar. Isso porque há alas na legenda próximas a Jair Bolsonaro, outras simpáticas a Lula e uma terceira refratária a qualquer um dos dois e que optaria, no primeiro turno, por se aliar a Ciro Gomes (PDT) ou Simone Tebet (MDB).
O vice-líder do União Brasil na Câmara Júnior Bozzella (União-SP) afirma que é natural os partidos se movimentarem, procurando uns aos outros, nessa fase do processo eleitoral. Embora não confirme a aproximação do partido com Lula, ele reconhece que a polarização entre o ex-presidente e Bolsonaro já está consolidada na disputa presidencial, o que dificulta os planos iniciais de Bivar. O parlamentar, no entanto, não considera incontornável a candidatura do pernambucano. Bozzella disse que defende uma “frente ampla” dos partidos de direita e de esquerda contra o projeto de reeleição de Bolsonaro. Para ele, o que está em jogo na eleição presidencial deste ano é a democracia.
“Eu acho que estamos num momento arriscado na preservação da democracia, da República com esses arroubos autoritários de Bolsonaro. Temos um Parlamento conveniente com tudo que está acontecendo”, criticou. “Há um risco de uma ruptura institucional e essa acomodação entre os dois Poderes nesse estado de barbárie que a sociedade se encontra, com esse desejo de perpetuação de poder. Isso está me cheirando perigoso”, comentou. “Tem que ter uma conversa com todas as forças políticas que estão no campo democrático para que se chegue a um consenso numa verdadeira frente ampla. Não se fala em direita, esquerda, mas de uma frente pró-democracia. Ele [Bolsonaro] é o Hugo Chávez tupiniquim”.
Bivar tem admitido a aliados que enfrentará dificuldades para se reeleger deputado caso abra mão da candidatura ao Planalto. O União Brasil calcula que elegerá apenas dois deputados federais em Pernambuco. O ex-ministro da Educação Mendonça Filho (União-PE) e o deputado Fernando Bezerra Filho (União-PE), filho do senador Fernando Bezerra Coelho (MDB-PE), despontam como favoritos para preencher essas vagas. Para se reeleger deputado, Bivar considera que teria de contar com a desistência de algum deles.
Em Pernambuco, há conversas sobre uma eventual entrada do União Brasil na Frente Popular, grupo da liderado por Renata Campos, viúva do ex-governador Eduardo Campos (PSB), com as bênçãos de Lula, que abriria mão da candidatura da deputada estadual Teresa Leitão (PT) ao Senado para indicar Fernando Filho ao posto. “Sem possibilidade para as duas opções”, disse Fernando ao Congresso em Foco. Outra possibilidade seria o próprio Bivar ser o candidato do grupo ao Senado. O partido, assim, sairia da oposição ao PSB em Pernambuco.
Também há conversas para uma aproximação do União Brasil com o PT na Bahia e em São Paulo. No caso da Bahia, o ex-presidente Lula poderia apoiar o projeto eleitoral do ex-prefeito ACM Neto, que vem liderando as pesquisas de intenção de votos com indicação de vitória ainda no primeiro turno. Em São Paulo, outra ginástica para selar a aliança do União Brasil com Lula seria a indicação do vice para a candidatura do ex-ministro Fernando Haddad (PT) ao governo do estado. Esse seria um desejo pessoal de Fernando Haddad. O União Brasil até o momento está apoiando a reeleição do governador Rodrigo Garcia (PSDB).
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