Aproximam-se as eleições. Talvez, as mais importantes, decisivas, radicalizadas, perigosas e dramáticas do Brasil pós-redemocratização. A apresentação de uma candidatura competitiva do polo democrático, a chamada terceira via, mais do que um desejo subjetivo, é uma necessidade histórica para oferecer à sociedade brasileira a percepção que existe vida possível e inteligente fora da polarização entre Bolsonaro e Lula. Um ano atrás, as pesquisas indicavam que 32% dos brasileiros queriam votar numa terceira via. Este sentimento se esmaeceu, diante da condução errática e equivocada da construção política de uma candidatura do centro democrático, entendido como um espectro que abrange desde o social-liberalismo até a esquerda democrática. Hoje apenas 19% apostam nesta perspectiva em função da falta de uma candidatura unitária forte deste campo que conquiste corações e mentes e gere expectativa de poder. Fomos deixando pelo caminho candidaturas com grande potencial: Luciano Huck, Mandetta, Eduardo Leite e João Dória. Não dialogamos com Ciro Gomes e deixamos escapar Luciano Bivar (União-PE).
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O PSDB renunciou, pela primeira vez, a ter protagonismo e candidatura própria desde a sua fundação, da qual participei, quando lançamos a candidatura de nossa referência política, Mário Covas, em 1989, cujo a campanha coordenei em Juiz de Fora e na Zona da Mata mineira, como primeiro presidente do PSDB na cidade. O PSDB optou pelo apoio à Senadora Simone Tebet. Figura encantadora, carismática, boa parlamentar e líder consciente de seu papel neste momento difícil da vida nacional.
Fizemos um gesto radical, renunciando ao nosso protagonismo histórico nas eleições presidenciais. No entanto, o MDB nem abraçou a candidatura de Simone Tebet (MDB-MS), nem revelou qualquer apreço e sentimento de reciprocidade ao PSDB. Nenhum gesto coletivo e majoritário foi feito de apoio a Simone, a não ser manifestos frios e burocráticos. Não houve um evento sequer para fortalecer a candidatura. Ao contrário, o que assistimos é uma forte luta interna de contestação. Inúmeros diretórios do MDB apoiam abertamente Lula ou Bolsonaro. E os independentes, como o de Minas Gerais, lavam as mãos e não fazem nenhum esforço para construir uma sólida base de apoio. Tendo contato semanal por telefone e mensagens com Simone, Baleia e Newton Jr, soube da adesão do MDB de Minas ao governador Zema, pelos jornais mineiros, em um sábado, sacrificando inclusive o candidato a Senador do MDB, o ex-deputado e ex-prefeito de Uberaba, Paulo Piau. Até hoje não recebi sequer um telefonema de qualquer um dos três justificando a opção. Talvez os motivos não sejam confessáveis.
O PSDB renunciou ao protagonismo e fez um gesto forte de apoio a Simone. No entanto, temos apenas nove candidaturas a governador. Em sete estados, o MDB está em outro palanque (MG, GO, PE, MS, PB, SE, DF). Em um, Rio Grande do Sul, vivemos uma verdadeira novela, um verdadeiro conflito geracional, aonde a ala mais jovem quer apoiar Eduardo Leite, mas a velha guarda resiste. E em São Paulo, estado estratégico para o PSDB, Baleia Rossi já era da coordenação de Rodrigo Garcia, antes mesmo da vinda dele para o PSDB e da aliança nacional se consolidar. Infelizmente, o PSDB terceirizou seu destino e futuro. Nada podemos fazer a não ser assistir da arquibancada o processo interno do MDB. No Ceará de Tasso Jereissati, o MDB estará em outro palanque em favor de Lula. O candidato do MDB no Mato Grosso do Sul, estado de Simone Tebet, tangenciou a pergunta sobre apoio à candidatura presidencial, desejando boa sorte à Lula e Bolsonaro. Em Minas, aprendemos que as omissões têm maior valor que as palavras.
O maior líder do MDB, o ex-presidente Michel Temer, revela dúvidas sobre o rumo a seguir e apoiou o adiamento da Convenção Nacional. Dilma resiste. Renan vai judicializar a data e a dinâmica da Convenção Nacional. É a “Crônica da Morte Anunciada”, para homenagear o grande escritor, Prêmio Nobel de Literatura, Gabriel Garcia Marquez. O MDB desenvolveu um competente “now how” de como “cristianizar” seus candidatos. Aconteceu com Ulysses, Quércia, Meireles. Não quero participar de uma farsa, quando uma política da qualidade de Simone será levada ao “altar da traição”.
Por que Ciro Gomes é o melhor candidato da terceira via? No meu ponto de vista são quatro as razões centrais que justificam meu apoio:
Ciro é o mais experiente. Foi prefeito de capital, governador e ministro de Estado;
Tem um programa claro para o futuro do país expresso em seu livro “Projeto Nacional: o dever da esperança”; pode-se concordar ou discordar de alguns pontos, mas Lula e Bolsonaro, nem de perto explicitaram suas propostas para a economia e as principais políticas públicas;
Tem resultados concretos a mostrar que mudaram a vida da população: das 100 escolas mais bem avaliadas no ensino fundamental do Brasil, mais de 70 estão no Ceará, fruto das sementes plantadas por Ciro e Tasso. Fui secretário de saúde de Minas por oito anos, o Ceará nos inspirou na construção do SUS em Minas. Foram Tasso e Ciro que criaram os agentes comunitários de saúde, entre outros avanços.
Faltam 70 dias para a eleição. A campanha será curta. O programa de rádio e TV que é decisivo, que no passado ocupava 60 dias e foi reduzido para 45 dias, terá agora apenas 35. As redes sociais estarão poluídas com o impulsionamento de milhares de candidatos no primeiro turno. O polo democrático não tem rede social poderosa como o lulopetismo e o bolsonarismo. As rádios e as TVs serão essenciais. Ciro parte de um patamar de 9%. Com a experiência que tenho de coordenação de oito campanhas majoritárias, tenho a convicção de que poderá atingir 15% até o 7 de setembro, e aí haverá um deslocamento grande em seu favor de indecisos e de polarizados não convictos, que votam em Bolsonaro para derrotar Lula e votam em Lula para evitar Bolsonaro. Mas que, na verdade, gostariam de votar em outra alternativa.
Sou fundador do PSDB desde a fundação em 1988. Fui presidente municipal, estadual e secretário geral nacional do PSDB. Tenho 34 anos de partido, num país onde mudar de partido é como mudar de camisa. O PSDB, por absoluta maioria, renunciou ao protagonismo nacional. Aprendi desde o movimento estudantil que vida partidária é liberdade de pensamento e unidade de ação. A maioria decide e a minoria segue. Juro que tentei. Mas a decisão não oferece horizonte ao partido e ao país.
O PSDB de SP fará palanque duplo para Simone e Bivar. O MS apoiará Bolsonaro. No Rio, estamos no palanque de Freixo e Lula. Em Minas, apoiaremos Ciro Gomes. O Rio Grande do Sul apoiará Bivar e aguarda a decisão do MDB regional. O que reflete a vida real e seria o mais indicado era não dar o vice ao MDB, liberar o partido e ficar independente na eleição presidencial. Ou melhor, aos 43 do segundo tempo, recuperar o protagonismo e capitanear uma tentativa de unificação das candidaturas Ciro Gomes, Simone Tebet, Luciano Bivar e Luiz Felipe d’Ávila, para a construção de uma candidatura única do centro democrático. Ou algum pacto de apoio recíproco na reta final, nos últimos 15 dias. Eu, FHC e Cristovam Buarque lideramos um manifesto e uma mobilização neste sentido, em 2018. Particularmente, gostaria de patrocinar a aproximação de Ciro Gomes e Luciano Bivar, que tem demonstrado disposição para apoiar as grandes reformas que o Brasil necessita.
Desde cedo, tenho um lema ensinado por um velho dirigente partidário: “Política se faz com o coração quente e a cabeça fria”. É com esse espírito que reafirmo: Ciro Gomes é a verdadeira terceira via.
Atenciosamente,
MARCUS PESTANA
Pré-candidato do PSDB ao Governo de Minas
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