Sebastião Batista *
A falsa polarização política da sociedade faz parte da cena eleitoral. Compõe-se de narrativas que subgrupos políticos hegemônicos, oficiais e antioficiais, esgrimem na disputa, para demonstrarem centralidade e protagonismo nos respectivos campos, com a finalidade de se enfrentarem ao final, com o apoio de facções satélites. A grande massa oscilante da sociedade vive outro tipo de polarização. Na realidade, salvo despistados, manipulados ou interessados nas sobras de poder, a grande polarização ocorre entre o topo e a base da pirâmide social, entre ricos e pobres, na qual se subtraem dos pobres seus potenciais de desenvolvimento cognitivo, emocional e material.
No topo, encontra-se o 1,5% da população, com 47,5% da riqueza. Esse coletivo não tem ideologias políticas; mas interesses e a obsessão por incrementar sua opulência, poder e a manipulação sobre os demais e seus pertences. Na base, encontram-se 39,5% da população, que subsistem com 0,5% da riqueza; sem condições, portanto, de processarem ideologias partidárias, pois estão, necessariamente, absortos por suas carências cotidianas. Não são de direita ou de esquerda, são necessitados. Movem-se na vida por seu instinto de sobrevivência. Logo acima, também na faixa da pobreza, menos miserável que a base, estão 42,7% da população, com 12,6% da riqueza. Neste contingente, distinguem-se os mais miseráveis, da parte de baixo, dos menos miseráveis, da parte de cima, que, com menores restrições, podem alcançar o nível de minivivência ou de mediovivência. Na faixa superior, encontram-se os mais beneficiados pela ordem estabelecida, representantes dos interesses superiores, que repassam os comandos do alto para os escalões menores e defendem suas regalias. São 16,3% da população, com 39,4 da riqueza (UBS, The global wealth pyramid 2023, “in” Global Wealth Report 2024).
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Os superricos, do alto, controlam todos os subsistemas vitais da sociedade. Sócios majoritários do mundo, controlam a vida e os bens (riqueza/pobreza) das clases inferiores. No comando do subgrupos oficiais, manipulam as finanças, as indústrias, as mídias, as informações e os governos, nacionais e internacionais. Por meio de sipaios, alocados em instituições estratégicas estatais e paraestatais, ocultos no anonimato, direcionam políticas públicas financeiras, monetárias, econômicas, políticas, judiciárias, bem como relacionadas à educação, à saúde, à segurança, à produção, ao consumo, à comunicação, além dos demais setores da vida social. Promovem crises, guerras ou paz aos seus intereses ou humores.
Nas subpirâmides do poder, em escalas sociais inferiores, públicas e privadas, os senhores do andar de cima, em diferentes perspectivas e variadas estratégias sub-repitícias, controlam os poderes, a democracia e os partidos políticos. A seu mando, em qualificados e bem remunerados laboratorios, criam-se e se difundem, em midias sob cabresto, conceitos falaciosos, que confundem e perturbam o proceso eletivo, para marginalizar ou excluir indesejáveis e favorecer aliados de ocasião. Neste rol, desnuda, está a falsificação política da polarização, da qual se fala e se propaga.
Em resumo, a polarização da sociedade não passa de malabarismo verbal, falácia, mentira, engodo, que promovem narrativas personalíssimas ou de grupos que aspiram conquistar postos políticos em jogo ou privilégios na estrutura do Estado. Não houve nos últimos pleitos, e não há na atualidade, quaisquer projetos ou modelos antagônicos em confronto, além de narrativas vazias, placebas ou paliativas, que possam modificar na sua essência, para melhor, ou polarizar, as precárias condições de vida da esmagadora maioria da população.
É necessário e urgente que se arranque essa máscara da polarização política da sociedade. Cabe aos agentes políticos de toda a ordem, conscientes do seu mister, acabar com essa fake news.
* Sebastião Batista é doutor em Direito. Membro do Instituto dos Advogados de Minas Gerais (IAMG); da Academia Internacional de Cibernética Social Proporcionalista (ACSP); membro do Intituto de Fisclização e Controle (IFC), da Associação Brasileira de Eleitoralistas (Abre) e da Escola Superior de Estudos Eleitorais. Advogado (Esel).
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