Nascido em Pernambuco, o ex-presidente Lula (PT) mantém no Nordeste do país seu maior capital político. Na última pesquisa Datafolha, Lula registrou 59% das intenções de voto na região contra 22% do presidente Jair Bolsonaro (PL). Nestas eleições, os palanques ligados a Bolsonaro, seu maior adversário e com quem polariza a disputa presidencial, caminham para o abismo, com apenas um postulante favorito com chance de vitória em disputa a um governo estadual. E mesmo assim sub judice.
Duas grandes apostas de Bolsonaro na região estão patinando nas pesquisas eleitorais. Justamente dois ex-ministros abençoados pelo Palácio do Planalto. Na Bahia, o ex-ministro da Cidadania João Roma (PL), candidato do presidente ao governo baiano, está longe do favorito na disputa, o ex-prefeito ACM Neto (União), que, mesmo no campo da direita, vem mantendo neutralidade na eleição presidencial. João Roma, na última pesquisa Datafolha, aparece com 7% dos votos. ACM Neto tem 49%. O candidato do PT, Jerônimo Rodrigues, aparece com 28%.
Fiasco parecido acontece também com candidato ao Senado de Bolsonaro em Pernambuco. O ex-ministro do Turismo Gilson Machado (PL), também conhecido como o “sanfoneiro do presidente”, pode até animar as festas dos aliados. Mas quando o assunto é voto o silêncio predomina. Gilson, segundo a última pesquisa do Ipespe, está na terceira posição, com 11% dos votos. Ele fica atrás de Teresa Leitão (PT), com 20%, e do deputado federal André de Paula (PSD), com 12%.
“O bolsonarismo não teve tanta força no Nordeste por conta da crise econômica que ocorre no país. O eleitorado nordestino, como de outros locais, tem consciência política e escolhe os seus representantes de acordo com suas necessidades”, justifica ao Congresso em Foco o cientista político Alex Ribeiro (UFBA) ao tratar do cenário. “O nordestino almeja uma melhora e vê, em sua maioria, o ex-presidente Lula como o principal ator político para mudar o atual cenário”, completa.
Candidatos ligados a Lula mantêm vantagem em cinco estados. Estão com o petista: Carlos Brandão (PSB), do Maranhão; Fátima Bezerra (PT), do Rio Grande do Norte; João Azevedo (PSB), da Paraíba; Marília Arraes (Solidariedade), de Pernambuco; e Paulo Dantas (MDB), de Alagoas. Bolsonaro só tem um candidato ao governo no Nordeste que lidera pesquisa. Em Sergipe, Valmir de Francisquinho (PL) aparece na liderança, mas sua candidatura está sob judice na Justiça Eleitoral.
Candidatos identificados com a direita, ou seja, de oposição ao PT, também têm ganhado espaço na região. Mas, como estratégia para sobreviver ao bolsonarismo, estão preferindo manter a neutralidade. Esses são os casos do já citado ACM Neto, na Bahia, de Silvio Mendes, no Piauí, e de Capitão Wagner, no Ceará. Os três são do União Brasil.
PublicidadeNo caso do Capitão Wagner, que vem liderando a disputa no Ceará, chama a atenção pelo fato de ele herdar os votos do bolsonarismo e negá-lo ao mesmo tempo. Além disso, o presidente declarou apoio ao seu projeto eleitoral. O Capitão, no entanto, ao longo da campanha vem se descolando da imagem do presidente. Em um debate promovido pelo jornal O Povo neste mês, o deputado saiu pela tangente ao tratar do presidente.
“Padrinho político está aqui no processo eleitoral, aparece na televisão, no rádio; vive de pedir voto para o seu apadrinhado. Mas passada a eleição, ele vai embora”, defendeu. No estado, sua candidatura pelo União Brasil conta com o apoio do PL de Bolsonaro, além do Avante, PTB, Republicanos, Podemos e Pros.
“O Capitão Wagner está se afastando. Teve um crescimento significativo nos últimos anos. Mas, no Ceará, PT e o PDT, partidos com bastante representatividade na região, concorrem ao mesmo cargo”, destacou o cientista político Alex Ribeiro. “Em boa parte do país, a direita está sendo identificada pelo bolsonarismo. Os partidos de centro direita estão cada vez mais tentando se colocar como centristas”, completou o cientista político.
Palanque duplo
Favorita na disputa pelo governo de Pernambuco e aliada do ex-presidente Lula (PT), a deputada federal Marília Arraes (Solidariedade) conta com dois nomes conhecidos da direita em seu palanque: os deputados federais André de Paula (PSD), candidato ao Senado, e Sebastião Oliveira (Avante). No caso de André, sua militância política é totalmente ligada a grupos antipetistas. Ele chegou a ser presidente dos Democratas e PFL em Pernambuco. Hoje, nas inserções eleitorais, André fala em “trabalhar junto” com Lula.
Marília, no entanto, discorda que essa mudança seja puro adesismo em busca de votos. “Não enxergo os apoios que o presidente Lula recebe aqui no Nordeste como um movimento apenas adesista e eleitoral. Na verdade, o Nordeste sempre rejeitou Jair Bolsonaro e votou em Lula e nos candidatos apoiados por ele”, disse a candidata ao Congresso em Foco.
“São cinco eleições seguidas que Lula e seus candidatos vencem no Nordeste. Além do mais, estamos em uma batalha civilizatória, na qual o nosso lado representa os avanços, a democracia e o olhar para os mais vulneráveis, e o outro lado representa a violência, o golpismo, o preconceito e a fome”. Tanto Marília como o candidato do PSB ao governo, o deputado federal Danilo Cabral apoiam a postulação de Lula.
Danilo Cabral, no entanto, já chegou a romper com o PT, quando votou pelo impeachment da então presidente Dilma Rousseff (PT). Esse é um dos pontos que Marília usa para justificar sua lealdade a Lula. “Não confunde porque o eleitor pernambucano sabe que eu sempre estive ao lado de Lula, desde os tempos do movimento estudantil. Ao contrário do PSB, que apoiou Aécio Neves em 2014 e votou em peso a favor do impeachment da presidente Dilma”.
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