A Polícia Civil de São Paulo instaurou um inquérito para investigar um integrante da corporação que ameaçou a jornalista Natuza Nery, da Globonews, enquanto ela fazia compras em um supermercado em Pinheiros, na zona oeste da cidade, na noite de segunda-feira (30). Como a denúncia envolve um investigador da Polícia Civil, a Corregedoria assumiu a investigação do caso e irá avaliar a conduta do agente, que já foi afastado de suas funções.
Após o episódio, Natuza registrou um boletim de ocorrência, enquanto o policial, identificado como Arcênio Scribone Junior, alegou que apenas fez uma “crítica ao trabalho” da jornalista e negou que tenha feito ameaças. De acordo com o boletim, o policial se aproximou de Natuza no supermercado, reconheceu-a e começou a proferir ofensas, afirmando que “pessoas como vocês deveriam ser aniquiladas.”
Depois disso, a jornalista o confrontou novamente, momento em que o policial a ofendeu mais uma vez, sendo interrompido por sua esposa. A polícia foi acionada, e antes da chegada dos agentes, Arcênio declarou a testemunhas que só expressou sua aversão ao trabalho da jornalista.
Após o ocorrido, o policial apagou suas contas nas redes sociais, mas capturas de tela revelaram postagens anteriores nas quais atacava a imprensa, o Judiciário e as Forças Armadas, além de questionar a integridade das urnas eletrônicas. Em uma das postagens recuperadas pelo jornal O Globo, ele pediu uma intervenção do então presidente Jair Bolsonaro e das Forças Armadas no dia da diplomação do presidente Lula e de seu vice, Geraldo Alckmin.
Em uma das publicações mais recentes na rede social Threads, em novembro, ele declarou que, se seguisse seus impulsos, estaria “preso ou morto.”
Em nota, a Corregedoria informou que assim que tomou conhecimento dos fatos se dirigiu à delegacia para realizar diligências, buscando imagens da discussão e testemunhas. A investigação administrativa pode levar o policial ao afastamento. Arcênio está lotado na Polícia Civil de São Paulo e teve uma remuneração bruta de pouco mais de R$ 14 mil em novembro, segundo seu contracheque mais recente.
Várias autoridades expressaram apoio à jornalista. O ministro-chefe da Advocacia-Geral da União (AGU), Jorge Messias, pediu que as autoridades de São Paulo adotem medidas rápidas para responsabilizar o agressor e reafirmou a importância da liberdade de imprensa.
O ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal, também se manifestou sobre o ataque, afirmando que a agressão a Natuza, resultante do exercício de sua profissão, exige uma resposta imediata do poder público e dos órgãos competentes. Gilmar destacou que a liberdade de informação e expressão é fundamental para a democracia, que depende do jornalismo profissional.
Já o ministro dos Transportes, Renan Filho, destacou que o policial que ameaçou a jornalista já havia atacado urnas eletrônicas e defendido um golpe contra a democracia. Para o ministro, o policial agiu de maneira covarde e possivelmente não teria se comportado da mesma forma se Natuza não fosse mulher.
A Transparência Internacional também se manifestou em apoio à jornalista, condenando qualquer forma de hostilidade contra a prática do jornalismo. O Congresso em Foco não conseguiu localizar a defesa do policial, mas o espaço permanece aberto para suas manifestações. (Com informações da Agência Brasil)
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