Rafael Rodrigues da Costa *
Dois terços dos evangélicos afirmam que Lula não ganhou a eleição do ano passado e concordam que uma intervenção militar deveria invalidar o resultado da eleição presidencial. É o que revela a última pesquisa Atlas/Intel, realizada com 2.200 pessoas entre os dias 8 e 9 de janeiro de 2023.
Os números retratam um abismo de percepções entre os evangélicos e a opinião pública em geral. Enquanto a maior parte dos entrevistados reconhece que Lula venceu a eleição presidencial de 2022 – 56,4% ao todo – entre os evangélicos, apenas 28,1% concordam com tal afirmação. Em contrapartida, 67,9% dos evangélicos não acreditam que Lula obteve mais votos que o ex-presidente Jair Bolsonaro, número 28% superior à média geral dos entrevistados.
Talvez, por esse motivo, os evangélicos sejam o grupo religioso mais simpático à proposta de intervenção militar para invalidar o resultado da eleição presidencial. Nesse sentido, seis em cada dez evangélicos (64,3%) afirmam ser favoráveis à intervenção militar, enquanto menos de um terço deles (29,5%) se dizem contra. No geral, porém, 54,1% dos entrevistados afirmam ser contrários a uma intervenção militar e apenas 36,8% a favor.
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Coincidência ou não, os evangélicos são também os religiosos com maior tolerância à ideia de uma ditadura militar no país. Embora 71% dos evangélicos sejam contrários à proposta, 15,5% deles se mostram favoráveis. Na comparação entre religiões, o número dos evangélicos que aprovam a instauração de um regime autoritário no Brasil é 5% maior do registrado entre católicos e quase 10% a mais do encontrado entre ateus e agnósticos.
Não por acaso, os evangélicos são o grupo que mais aprovou a ação de manifestantes bolsonaristas que ocuparam o Congresso Nacional, o Palácio do Planalto e o STF no último dia 8 de Janeiro. Em números proporcionais: 31,2% dos evangélicos aprovaram as invasões, cifra 17% maior que a encontrada entre católicos e quase duas vezes acima da média geral dos entrevistados (18,4%). A maior parte dos entrevistados (75,8%), contudo, desaprova os atos.
Os dados em tela mostram a dimensão e profundidade do envolvimento dos evangélicos com a extrema direita. Revelam ainda o quanto a narrativa bolsonarista possui aderência nesses crentes, sobretudo no descrédito às instituições e ao sistema democrático. E por mais que os evangélicos sejam de fato plurais, diversos e não raras vezes conflituosos, é inegável a coesão e senso de unidade que o movimento evangélico ganhou após a emergência do bolsonarismo.
O grande desafio de nosso momento histórico, portanto, consiste em encontrar caminhos para que valores democráticos tenham espaço em um campo tão influenciado pelo extremismo político e pelo fundamentalismo religioso. A desbolsonarização da sociedade brasileira precisará passar pelos evangélicos.
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* Rafael Rodrigues da Costa é sociólogo pela Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo (FESPSP). Mestre em Ciências Sociais pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e Pesquisador visitante da Universidade Federal da Bahia (UFBA). Atualmente Professor de Psicologia Social na Faculdade Fecaf.
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Essa análise está bem enviesada, o número da amostra representa 0,003% dos evangélicos do país. Não se falou da região ou faixa etária destes. Concluo que o grupo vem sendo mais atacado, há fatores mais complexos para justificar o grupo ter votado em Bolsonaro. Se vocês jornalistas não puderem fazer um trabalho mais explorativo e verdadeiro sobre o tema teremos mais divisão e desentendimento no país. Falo como evangélica, que nunca votou em Bolsonaro, mas que está observando haver dois pesos e duas medidas nas notícias