A BBC divulgou, em reportagem publicada na quarta-feira (21), uma pesquisa realizada pelo instituto Global Witness que associa os frigoríficos JBS, Minerva e Marfrig ao desmatamento no Cerrado. As empresas, no entanto, negam as acusações do relatório e afirmam que agem em conformidade com a lei.
Segundo dados da organização, uma em cada três vacas compradas pelas empresas em Mato Grosso, estado analisado na pesquisa, veio de fazendas com Cerrado desmatado ilegalmente. Para aferir o desmatamento entre 2008 e 2019, os pesquisadores utilizaram dados públicos do estado para encontrar as fazendas e cruzaram com imagens de satélite.
Ainda de acordo com a pesquisa, cerca de 42% das fazendas localizadas no bioma foram desmatadas. Apesar de o desmatamento ser permitido sob licença do estado, a instituição apontou que apenas 1% das terras desmatadas eram cobertas pela licença, ou seja 99% do desmatamento, segundo a pesquisa, é ilegal.
Em comparação com a Amazônia, a Global Witness diz que o desmatamento em razão da agropecuária no Cerrado é maior. No primeiro bioma, cerca de 12,8% do gado está em região desmatada, enquanto no Cerrado, 35,6%.
Em entrevista à BBC, o jornalista da instituição, Simon Roach, destacou que o Cerrado também merece atenção. De acordo com o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), o desmatamento no bioma aumentou em 43% no último ano em comparação a 2022.
“Todo mundo sabe que a Amazônia está em crise e tem recebido, com razão, a atenção dos legisladores e do público, mas ao lado você tem este ecossistema muito importante que não foi protegido contra na mesma medida.”, diz.
PublicidadeAs empresas JBS, Minerva e Marfrig, associadas na pesquisa à compra de gado em fazendas desmatadas, são responsáveis pela exportação de carne para todo o mundo. De acordo com a reportagem da BBC, as três faturaram coletivamente, em 2022, US$ 98,15 bilhões, cerca de R$ 485 bi. Os frigoríficos negam as acusações.
A Marfrig reafirmou ao Congresso em Foco que “não adquire animais de áreas desmatadas, unidades de conservação, terras indígenas, territórios quilombolas e de propriedades que constam na lista suja de trabalho análogo à escravidão”. A empresa também alegou não ter tido acesso às documentações mencionadas pela Global Witness.
O frigorífico apontou que nove propriedades que constam na pesquisa não fazem parte da base de dados da companhia, assim como 79,8% das propriedades sequer se sobrepõem às áreas de desmatamento documentadas pelo Projeto de Monitoramento do Desmatamento na Amazônia Legal por Satélite (Prodes). “De acordo com esse levantamento, a Marfrig demonstra que as alegações não procedem e está aberta para comprovar o cumprimento de sua política de compra”, justifica.
A Minerva Foods afirmou em nota enviada à reportagem que possui compromisso com a sustentabilidade. A empresa também aponta que “utiliza a melhor tecnologia disponível em suas práticas de rastreabilidade e monitoramento socioambiental para garantir o cumprimento das normas ambientais, trabalhistas e fundiárias”.
Assim como a Marfrig, a Minerva explica que não compra gado de fazendas desmatadas ilegalmente, terras indígenas e com trabalho análogo à escravidão.
Procurada pela reportagem, a JBS utilizou o mesmo posicionamento dado à BBC, de que não adquire animais de fazendas desmatadas e que 14% das fazendas apontadas pela Global Witness foram excluídas da cadeia produtiva por não conformidade.
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