O hoje deputado federal Eduardo Pazuello (PL-RJ) avisou ao então comandante do Exército, Paulo Sérgio Nogueira, que iria participar de um ato político do então presidente Jair Bolsonaro no Rio de Janeiro, em 2021. Na ocasião, Pazuello, ex-ministro da Saúde, era general da ativa do Exército brasileiro. As regras da caserna proíbem a militares da ativa a participação em atos políticos. Mesmo assim, nada aconteceu com Pazuello.
As informações constam de defesa feita por Pazuello em processo disciplinar movido pelo Exército na ocasião. O documento era um dos vários que estavam sob sigilo por ordem de Bolsonaro. A defesa veio a público em atendimento, pela Controladoria Geral da União, a um pedido de veículos de comunicação com base na Lei de Acesso à Informação.
O aviso feito ao comandante do Exército é usado na defesa de Pazuello como argumento de que não teria feito nada escondido e de que não houvera nenhum tipo de recomendação contrária à sua participação no ato, apesar da proibição da ativismo político para militares da ativa. À época, o episódio foi considerado um precedente à politização militar.
Pazuello diz ainda na sua defesa que não estava combinado que ele iria fazer discurso no ato, ocorrido na Praia de Copacabana, no Rio. Pazuello tinha acabado de deixar o Ministério da Saúde, após uma polêmica e muito criticada passagem na condução da pandemia de covid-19. Ele diz em sua defesa ter sido “surpreendido” pelo convite de Bolsonaro para falar no ato.
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Também em sua defesa, Pazuello afirma que o ato não teria um caráter “político-partidário” porque, na ocasião, Bolsonaro não estava filiado a nenhum partido político. Bolsonaro foi eleito presidente em 2018 pelo PSL. Depois, rompeu com o partido e fracassou na tentativa de criar sua própria legenda, Aliança pelo Brasil. Somente depois é que se filiou ao PL, partido pelo qual tentou a reeleição, sendo derrotado pelo atual presidente, Lula.
O ato aconteceu depois de uma das várias motociatas que Bolsonaro promoveu na sua fracassada estratégia de reeleição.
“Relembro-vos que o informei por telefone no sábado que iria ao passeio no domingo, a convite do presidente”, diz Pazuello, na sua defesa. Paulo Sérgio Nogueira confirma, em outro ponto do documento, a conversa. “Os laços de respeito e camaradagem entre mim e o presidente da República, a meu ver, justificam o convite para o passeio”.
Pazuello afirma ainda que teria tomado cuidados com o que diria no momento em que foi chamado a discursar, para que não se transformasse em “um discurso político”. Ele disse, então: “Fala, galera! Não ia perder esse passeio de moto de jeito nenhum. Tamo juntos, heim? Parabéns a vocês. Parabéns para a galera que vai prestigiando o PR. O PR é gente de bem”. PR, no caso, é o presidente da República, então Jair Bolsonaro.
Após reconhecer que tinha sido avisado, o comandante do Exército acolhe os argumentos da defesa de Pazuello e não dá andamento ao processo.
Veja a íntegra do documento de defesa, que estava sob sigilo:
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