A cúpula do autodenominado “centrão”, núcleo de partidos que reúne DEM, PP, PR, PRB e Solidariedade, anunciou apoio ao candidato do PSDB à Presidência da República, Geraldo Alckmin, nas eleições de outubro. O grupo é formado por 164 deputados na atual legislatura e, como outros partidos menores, servia como uma espécie de base de sustentação do ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha (MDB-RJ), cassado, condenado e preso em decorrência da Operação Lava Jato. A decisão foi tomada após reunião com Alckmin em São Paulo nesta quinta-feira (19).
A exigência para o apoio ao tucano, ele mesmo alvo da Lava Jato, é que o vice na chapa presidencial seja Josué Gomes (PR), filho do empresário e vice-presidente da República nos governos Lula (2003-2010), José Alencar, morto em 2011. Na última quarta-feira (18), Alckmin disse ter “grande estima” por Josué, proprietário da Coteminas (empresa do ramo têxtil fundada pelo pai), e que tinha proximidade com o ex-vice-presidente.
Embora o anúncio do apoio a Alckmin já tenha sido até levado a público por meio de nota conjunta, a decisão só poderá mesmo ser concretizada nas convenções nacionais de cada partido, que tem o dia 5 de agosto como prazo-limite. O desafio agora é convencer a ala do centrão disposta a apoiar o candidato do PDT à sucessão de Michel Temer (MDB), Ciro Gomes, cuja candidatura será definitivamente formalizada hoje (sexta, 20) na sede do partido em Brasília.
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Anunciado o apoio, ao menos duas questões imediatas se apresentam: a primeira é a óbvia derrota de Ciro na queda de braço com Alckmin para ver quem teria o apoio do centrão – que, além da exposição protocolar em palanques Brasil afora, oferece mais tempo de propaganda de rádio e TV para quem o receber. O outro ponto é que, ao escolher apoiar um candidato de fora do grupo, caem por terra, embora ainda não oficialmente, as próprias aspirações do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), em disputar o posto mais alto do Palácio do Planalto.
Na reunião em São Paulo, os caciques do centrão apresentaram a Alckmin uma pauta de reivindicações como condição para fechar o apoio. A composição de um eventual governo tucano, com postos estratégicos a serem distribuídos entre os partidos do centrão, é uma das imposições. Outra foi feita pelo deputado Paulinho da Força (SP), principal nome da Força Sindical: que Alckmin se comprometa com um novo modelo de financiamento de sindicatos, depois do fim do imposto sindical obrigatório na esteira da reforma trabalhista patrocinada pela gestão Temer.
Temperamento versus temperança
Como este site tem mostrado, a indefinição em torno do apoio a Alckmin ou a Ciro preocupava os atores da corrida eleitoral à medida que se aproxima a data final das convenções. Mais cedo, em entrevista à rádio CBN, o líder do governo na Câmara, Aguinaldo Ribeiro (PP-PB), admitiu que o temperamento explosivo de Ciro Gomes, em contraposição ao perfil de Alckmin, pode ter sido um dos fatores da escolha do centrão.
Nesta semana, o pedetista chamou a promotora que pediu investigação contra ele de “filho da puta”. Alckmin é visto como mais ponderado.
Além disso, o “centrão” também desconfia que a candidatura de Ciro está inflada por causa das incertezas em relação ao ex-presidente Lula, preso desde 7 de abril e, mesmo assim, pré-candidato do PT à Presidência da República. Se o petista nomear um substituto para a disputa, como é esperado, observadores da cena político-eleitoral preveem que eleitores de centro-esquerda passem a apoiar o candidato do PT.
“O momento é de ponderar, em conjunto, o melhor caminho para o futuro do Brasil. Ciente dessa responsabilidade e do papel que o Centro Democrático vai desempenhar nesta eleição, cada partido vai realizar consultas internas nos próximos dias com o propósito de anunciar publicamente uma decisão comum na semana que vem”, diz nota assinada pelo prefeito de Salvador, ACM Neto (DEM-BA), espécie de porta-voz do grupo.
Partidos demoram a fechar alianças e adiam convenções para o final do prazo