Renata Camargo
Pela primeira vez na história política do país, um partido fundado por ambientalistas está influenciando fortemente o processo eleitoral. No próximo domingo (17), o PV vai se reunir em convenção nacional para definir quem irá apoiar no segundo turno das eleições presidenciais. A decisão é aguardada com grande expectativa, pois os quase 20 milhões de votos dados à candidata do PV à Presidência da República, Marina Silva, no primeiro turno deverão definir a escolha do próximo presidente do Brasil. Mas será que a importância eleitoral de Marina refletiu ou irá refletir no crescimento do PV no cenário político?
Analistas políticos ouvidos pelo Congresso em Foco afirmam que Marina Silva se tornou maior do que seu partido e que o PV só irá crescer no cenário nacional se deixar a nova liderança comandar as bases e reestruturar a legenda. Consultores e cientistas políticos justificam que, apesar da votação expressiva de Marina para a Presidência, o PV teve baixo desempenho em outras disputas eleitorais. O resultado das urnas mostra que o PV, apesar de ter mantido o mesmo número de deputados na Câmara, não conseguiu eleger senador nem conseguiu levar ao segundo turno os oito candidatos do partido que concorreram ao governo nos estados.
“O PV era e continua sendo um partido nanico. É preciso separar o fenômeno Marina do PV. A votação de Marina foi dela, foi individual. Não foi uma votação partidária. Os eleitores não votaram no Partido Verde. Votaram em Marina Silva. E o desempenho do PV em outras eleições, como Senado, Câmara e governos estaduais, foi modesto”, avalia o cientista político Rogério Schmitt.
O desempenho de Marina Silva nas urnas, no primeiro turno eleitoral para a Presidência, é considerado pelos analistas como histórico. Com quase 20 milhões de votos, o que correspondeu a cerca de 20% dos votos válidos, Marina bateu o recorde de votações de um candidato na terceira posição em uma eleição presidencial no país. Foram os votos na candidata do PV os responsáveis por levar a corrida eleitoral a presidente para o segundo turno.
O aumento geral na quantidade de votos em candidatos do PV e na legenda, no entanto, foi pouco expressivo. Nas eleições deste ano, o PV obteve cerca de 340 mil votos a mais do que nas eleições de 2006. Naquele ano, o partido obteve 3,6% dos votos, sendo a soma dos votos nominais e de legenda igual a cerca de 3,4 mil. Neste ano, o PV obteve em torno de 3,7 milhões de votos, o que correspondeu a 3,8%.
Na avaliação de Schmitt, um dos fatores que levou o partido a não acompanhar o crescimento de Marina nas urnas foi a heterogeneidade da legenda. “Além de pequena, é uma legenda muito heterogênea. Não tem uma unidade doutrinária. É um partido que não conseguiu reafirmar-se como partido e segue como uma sigla com perfil camaleônico”, disse.
Baixo desempenho
O fenômeno Marina também não refletiu em ampliação da influência política do PV dentro do Congresso. A bancada verde na Câmara não aumentou e o partido perderá a vaga no Senado, hoje ocupada pela senadora Marina Silva. Na próxima legislatura, o PV permanecerá com apenas 15 das 513 cadeiras de parlamentares na Câmara.
Dos 11 deputados do PV que disputaram a reeleição, seis voltarão à Câmara no próximo ano. Os deputados Henrique Afonso (AC), Sarney Filho (MA), Fabinho Ramalho (MG), Antônio Roberto (MG), Lindomar Garçon (RO) e Roberto Santiago (SP) permanecem no Congresso.
Dr. Talmir (SP), José Paulo Tóffano (SP), Marcelo Ortiz (SP) não conseguiram se reeleger. O atual líder do partido, Edson Duarte (BA), tentou sem sucesso o Senado. O ex-deputado Edigar Mão Branca (BA), que foi suplente na atual legislatura, também não conseguiu votos suficientes para retornar ao exercício do mandato.
Se não ganhou em quantidade, o partido, na avaliação do presidente nacional do PV, José Luiz Penna, ganhou em qualidade. Segundo Penna, a liderança nacional do partido já previa que não haveria ganhos numéricos, mas forçaram a estratégia de colocar na disputa no Congresso nomes como o do próprio Penna e do vereador Alfredo Sirkis, ambos fundadores do PV no país.
“Nós marcamos presença nas campanhas, mas em muitas não tínhamos muita expectativa de eleger. Em relação ao Congresso, nós já tínhamos previsto que não haveria ganhos numéricos. A estratégia era justamente de qualificar a bancada sem uma preocupação numérica. A preocupação foi qualitativa. Acho que isso vai ser muito bom”, declarou Penna.
O presidente nacional do PV lamentou a saída dos deputados Edson Duarte e Fernando Gabeira (RJ), que disputou e perdeu a eleição para governador do estado do Rio de Janeiro. “São duas grandes perdas”, disse. Outros dois deputados que não voltam ao Congresso são Zé Fernando Aparecido (MG) e Luiz Bassuma (BA), que também perderam nas urnas na disputa ao governo de seus estados.
Além de Penna e Sirkis, outros sete deputados eleitos estarão no Congresso pela primeira vez. Assumem o mandato de deputado federal pelo PV a partir do próximo ano os eleitos Ricardo Izar (SP), Rosane Ferreira (PR), Dr. Aluizio (RJ), Paulo Wagner (RN), Guilherme Mussi (SP), Roberto de Lucena (SP) e Dr. Sinval Malheiros.
Maior que o partido
Na avaliação do cientista político Paulo Kramer, os reflexos das eleições nos estados e no Congresso mostram que Marina se tornou muito maior que o partido. Para o cientista, a “onda verde” nas eleições foi muito mais um feito da candidatura de Marina, do que da estrutura partidária do PV. “Marina se tornou muito maior que o partido. O PV deve agora usar esse crescimento nas urnas para se estruturar como legenda e crescer”.
O palpite de Kramer é que Marina deve mudar seu reduto eleitoral para estados com um eleitorado maior e mais afinado com temas como sustentabilidade. Para o cientista, São Paulo e Rio de Janeiro são locais que, nas eleições, se mostraram mais alinhados com as ideologias que o PV prega. “Nesses estados, ela poderá ter mais visibilidade. No Acre, ela foi terceiro lugar”, disse. “O desempenho surpreendente de Marina ajudou a colocar na disputa eleitoral, pela primeira vez, o discurso da sustentabilidade. O partido precisa usar isso e eles vão precisar manter essa importante imagem da Marina”, afirmou.
Aproveitar o momento e tirar proveito da maior evidência para o partido trazida por Marina é também a avaliação que faz o analista político Antônio Augusto de Queiroz, diretor de documentação do Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (Diap). Para o analista, “Marina é muito menor do que os votos que recebeu e, mesmo assim, é muito maior que o PV”.
“Marina se apresentou como uma alternativa diante dos nomes que se apresentaram na disputa eleitoral”, avalia Antônio Augusto. Ou seja, por esse raciocínio, ela era a opção posta por quem não pretendia votar nem em Dilma nem em Serra: muitos não votaram exatamente nela, mas contra os candidatos do PT e do PSDB. “Eu diria, que ela é um terço daquilo que foi nas urnas”, calcula o diretor do Diap. “Ainda assim, o PV se beneficiou disso e terá agora que ter sabedoria para tirar proveito da situação. Atualmente, o partido é extremamente frágil. Essa é uma oportunidade”, disse.
Na análise de Antônio Augusto, para o partido dar um salto de qualidade será preciso manter o grupo ligado à senadora Marina Silva no comando da legenda. O analista avalia que esse grupo tem maior compromisso com a questão ambiental, o que deve fazer a diferença do partido em relação a outras legendas. “Se Marina tiver espaço na liderança do PV, o partido poderá dar um salto de qualidade”, conclui.
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